Ritinha surgiu na sala, de repente. Ao ver Luizinho, espantou-se. E não entrou. Surpreendida, quis fugir mas limitou-se a observá-lo. O coração disparou, o de Luizinho também. Ela encostou-se na moldura da porta e deixou-se ficar. Em coisa de instante o vento morno da tarde formou um pequeno redemoinho e varreu tudo em volta. O alpendre ficou cheio de folhas e poeira, as coxas de Ritinha completamente nuas. Em vez de prender o vestido com as mãos, ela ergueu os braços e entrançou os cabelos jogando-os para um lado, sobre o ombro, um meio de esconder os seios firmes que sobravam no decote, talvez tivesse mesmo essa intenção, talvez o fosse para acentuá-los, como ficou mais evidente.
Inesperadamente ela correu e o beijou. Mesmo assombrado, ele fechou os olhos, ela não. Veio um segundo e Ritinha ouviu passos chegando. Meu Deus! Deu um pulo para trás.
Era a mãe, viera dizer que tinha assado queijo, feito tapioca e café. Fátima voltou para a cozinha, aos risos e pensativa. Ele criou coragem, aproximou-se e tentou abraçar Ritinha, mas esta esquivou-se, apavorada.
- Tua mãe viu, não falou nada, acho que até gostou.
- Mas deixa pai adivinhar! Ele pode matar a gente - reagiu rindo.
- Mata não, mata não – disse baixinho tentando abraçá-la.
Ela o esmurrou cheia de risinhos. Disse:
- Não e não! Aqui não, meu pai pode ver... Se ele descobrir, vai me matar! Noutro lugar, aqui não.
- Então onde a gente pode se ver? - perguntou Luizinho com a voz embargada.
Ela cobriu o rosto com as mãos para esconder o riso mudo e respondeu:
- Ah! Sei lá, noutro canto, qualquer canto.
- Outro canto, que canto?
- Ah! Sei lá... No galinheiro!
- No galinheiro? - perguntou perplexo.
A prima passava todo o tempo debaixo das vistas do pai. Não arredava de casa, e quando ia à cidade, dia de festa e de feira, a mãe ia junto.
- Está certo... No galinheiro!
Numa expressão de extremo espanto, o grito veio como um sopro, quase mudo:
- Paaaai!!!
- E não disse mais nada. Precipitou-se pelo corredor.
- Mas deixa pai adivinhar! Ele pode matar a gente - reagiu rindo.
- Mata não, mata não – disse baixinho tentando abraçá-la.
Ela o esmurrou cheia de risinhos. Disse:
- Não e não! Aqui não, meu pai pode ver... Se ele descobrir, vai me matar! Noutro lugar, aqui não.
- Então onde a gente pode se ver? - perguntou Luizinho com a voz embargada.
Ela cobriu o rosto com as mãos para esconder o riso mudo e respondeu:
- Ah! Sei lá, noutro canto, qualquer canto.
- Outro canto, que canto?
- Ah! Sei lá... No galinheiro!
- No galinheiro? - perguntou perplexo.
A prima passava todo o tempo debaixo das vistas do pai. Não arredava de casa, e quando ia à cidade, dia de festa e de feira, a mãe ia junto.
- Está certo... No galinheiro!
Numa expressão de extremo espanto, o grito veio como um sopro, quase mudo:
- Paaaai!!!
- E não disse mais nada. Precipitou-se pelo corredor.
Luizinho tentou mover as pernas, elas não obedeceram e a única coisa que sentiu foi um frio subindo pelo peito em direção à nuca, sufocando-o.
No dia seguinte, mesma hora, estava ele no mesmo lugar, Ritinha chegou. Os dois ficaram parados e mudos. Depois, mais à vontade, ela sorriu e lançou um olhar furtivo. Ele respirou fundo, teve ímpeto de correr e abraçá-la, mas conteve-se. Agora pegou o violão e iniciou uma música, cantou duas frases e parou.
Ela disse:
- Vim avisar que o café está na mesa.
- Vou, eu vou – respondeu descompassado.
Luizinho encostou o violão num canto, respirou fundo outra vez, sentiu crescer a vontade de correr e beijá-la, mas não podia; era um prisioneiro da imobilidade e do desejo. Os pensamentos foram sozinhos, revelaram o que não conseguia, fizeram o que tanto esperava.
Lendo-lhe o pensamento ela sorriu e desapareceu nos degraus laterais do alpendre.
A cozinha era simples, mas ampla e aconchegante. Num canto, abaixo de uma janela, as chamas do fogão à lenha lambiam o bule fazendo o cheiro de café recender por todo o ambiente. Luizinho viera passar as férias na fazenda, na casa da tia Fátima, mãe de Ritinha.
- Vou cuidar bem de você para sua mãe não imaginar que estou matando o filho dela de fome – disse Fátima ao tempo em que assava queijo de coalho e botava o leite fervente na mesa.
No dia seguinte, mesma hora, estava ele no mesmo lugar, Ritinha chegou. Os dois ficaram parados e mudos. Depois, mais à vontade, ela sorriu e lançou um olhar furtivo. Ele respirou fundo, teve ímpeto de correr e abraçá-la, mas conteve-se. Agora pegou o violão e iniciou uma música, cantou duas frases e parou.
Ela disse:
- Vim avisar que o café está na mesa.
- Vou, eu vou – respondeu descompassado.
Luizinho encostou o violão num canto, respirou fundo outra vez, sentiu crescer a vontade de correr e beijá-la, mas não podia; era um prisioneiro da imobilidade e do desejo. Os pensamentos foram sozinhos, revelaram o que não conseguia, fizeram o que tanto esperava.
Lendo-lhe o pensamento ela sorriu e desapareceu nos degraus laterais do alpendre.
A cozinha era simples, mas ampla e aconchegante. Num canto, abaixo de uma janela, as chamas do fogão à lenha lambiam o bule fazendo o cheiro de café recender por todo o ambiente. Luizinho viera passar as férias na fazenda, na casa da tia Fátima, mãe de Ritinha.
- Vou cuidar bem de você para sua mãe não imaginar que estou matando o filho dela de fome – disse Fátima ao tempo em que assava queijo de coalho e botava o leite fervente na mesa.
Dali se avistava o curral, o mato do tabuleiro, serras mais além.
- Diga isso não, tia, por caridade; muito pelo contrário, vou acabar engordando além da conta – disse. Mas a generosidade de Fátima era tanta que mal ouvia o que dizia o sobrinho.
- Também... Ritinha não tem pena, não serve, sequer, um lanche pra Luizinho – disse olhando para a filha que acabara de entrar.
- Ele já está mimado demais, mãe.
- Ritinha está com ciúmes, Luizinho. Tem que cuidar mesmo, filha, minha cunhada é coração de ouro, e filho dela tem que tratar muito bem. Sem contar que Luizinho é um amor de pessoa.
A mesa estava coberta por deliciosas comidas, e o rapaz comia por educação, apetite não tinha nenhum. De lugar seguro, servindo-se de café e bolo de macaxeira, Ritinha o contemplava, por isso preferiu não sentar-se à mesa. Enquanto ele engolia, olhava para ela com o cuidado da desconfiança da tia. Passaram todo tempo assim.
Em que Ritinha devia estar pensando? Queria ele, mas tinha medo, não da mãe, e sim do pai que morria de ciúmes dela, e ela, de medo dele. “Outro dia um cabra chegou com uma prosa diferente pro lado de minha menina, quase dei destino a ele... Foi coisa de muito pouco! ”
- Ritinha precisa dar mais atenção a seu primo, tá ouvindo filha?
- Hun-rum, pode deixar, mãe.
Ela riu, ele também riu, um imaginando o que o outro imaginava.
Ritinha deixou a cozinha e a tia continuou conversando, mas ele estava ali só de corpo, a alma tinha corrido atrás da prima. Então imaginou muitas coisas, e quando suas fantasias se tornaram quase reais, a porta da cozinha foi empurrada bruscamente. Era o marido:
- Diga isso não, tia, por caridade; muito pelo contrário, vou acabar engordando além da conta – disse. Mas a generosidade de Fátima era tanta que mal ouvia o que dizia o sobrinho.
- Também... Ritinha não tem pena, não serve, sequer, um lanche pra Luizinho – disse olhando para a filha que acabara de entrar.
- Ele já está mimado demais, mãe.
- Ritinha está com ciúmes, Luizinho. Tem que cuidar mesmo, filha, minha cunhada é coração de ouro, e filho dela tem que tratar muito bem. Sem contar que Luizinho é um amor de pessoa.
A mesa estava coberta por deliciosas comidas, e o rapaz comia por educação, apetite não tinha nenhum. De lugar seguro, servindo-se de café e bolo de macaxeira, Ritinha o contemplava, por isso preferiu não sentar-se à mesa. Enquanto ele engolia, olhava para ela com o cuidado da desconfiança da tia. Passaram todo tempo assim.
Em que Ritinha devia estar pensando? Queria ele, mas tinha medo, não da mãe, e sim do pai que morria de ciúmes dela, e ela, de medo dele. “Outro dia um cabra chegou com uma prosa diferente pro lado de minha menina, quase dei destino a ele... Foi coisa de muito pouco! ”
- Ritinha precisa dar mais atenção a seu primo, tá ouvindo filha?
- Hun-rum, pode deixar, mãe.
Ela riu, ele também riu, um imaginando o que o outro imaginava.
Ritinha deixou a cozinha e a tia continuou conversando, mas ele estava ali só de corpo, a alma tinha corrido atrás da prima. Então imaginou muitas coisas, e quando suas fantasias se tornaram quase reais, a porta da cozinha foi empurrada bruscamente. Era o marido:
- Cheguei na hora, de longe senti o cheiro do café! - disse, trazendo à cintura um facão, na mão uma espingarda, e dois lambus na outra. E continuou: - Vou levantar uma novilha, mato longe, vou demorar.
Essa notícia animou os planos de Luizinho que logo retirou-se para avisar a Ritinha. A ansiedade consumia seu peito, que o deixava tenso e inquieto. Procurou-a por toda parte, ela não estava em lugar nenhum.
Foi quando ouviu-se o alvoroço das galinhas por trás da casa. A confusão era tanta que fez Fátima gritar da cozinha, o cachorro latir e o marido mandá-lo aos “diachos”.
Minutos depois este e mais dois vaqueiros montaram nos animais e desapareceram na vereda do curral.
Depressa Luizinho, que olhava tudo da janela da sala, pulou para um pequeno jardim e, desajeitadamente, despencou sobre pedras e roseiras. Disse alguns palavrões e esfregou com cuspe os arranhões dos joelhos enquanto, abaixado, aproximou-se do galinheiro.
Ritinha colocava água numa gamela, desconcertou-se ao vê-lo entrar. As aves ficaram assanhadas com sua invasão e ela se mostrou tão desajeitada que derramou a cuia d'água sobre o vestido curto.
- Você enlouqueceu!? Meu pai vai ver!!
- Vê não, ele saiu.
- E minha mãe?!
- Está na cozinha!
- Vai ver!
- Vê não. A cerca é alta e fechada.
- E meu pai... Ele vai matar a gente. Aqui não!
- Você disse que era aqui.
- Mas não pode, é perigoso!
- E onde pode?
Essa notícia animou os planos de Luizinho que logo retirou-se para avisar a Ritinha. A ansiedade consumia seu peito, que o deixava tenso e inquieto. Procurou-a por toda parte, ela não estava em lugar nenhum.
Foi quando ouviu-se o alvoroço das galinhas por trás da casa. A confusão era tanta que fez Fátima gritar da cozinha, o cachorro latir e o marido mandá-lo aos “diachos”.
Minutos depois este e mais dois vaqueiros montaram nos animais e desapareceram na vereda do curral.
Depressa Luizinho, que olhava tudo da janela da sala, pulou para um pequeno jardim e, desajeitadamente, despencou sobre pedras e roseiras. Disse alguns palavrões e esfregou com cuspe os arranhões dos joelhos enquanto, abaixado, aproximou-se do galinheiro.
Ritinha colocava água numa gamela, desconcertou-se ao vê-lo entrar. As aves ficaram assanhadas com sua invasão e ela se mostrou tão desajeitada que derramou a cuia d'água sobre o vestido curto.
- Você enlouqueceu!? Meu pai vai ver!!
- Vê não, ele saiu.
- E minha mãe?!
- Está na cozinha!
- Vai ver!
- Vê não. A cerca é alta e fechada.
- E meu pai... Ele vai matar a gente. Aqui não!
- Você disse que era aqui.
- Mas não pode, é perigoso!
- E onde pode?
- No poço do lajeiro. Vou lavar roupa amanhã. Lá ninguém vê. Agora sai daqui, pelo amor de Deus!
O cachorro latiu novamente e a porta da cozinha foi aberta. Era Fátima.
- Ritiiiiiinha?
- Oi, mãe!
- Terminou?
- Tô terminando.
- Quando acabar venha me ajudar – disse, e entrou
. Luizinho tinha os olhos perdidos nas formas que afloravam na transparência do vestido molhado. Ele aproximou-se, carinhosamente ela o sacudiu com os punhos fechados.
- Ritinha...
- Depois. Aqui não!
- Ninguém vai ver não... Veja, até os bichos estão mais quietos agora!
E estavam mesmo. As galinhas aquietaram-se, e o galo pedrês, devendo ter entendido que a intenção de Luizinho não era disputar seu território, apenas rodou a cabeça, meio tolo.
Ela riu e os cabelos cobriram-lhe os olhos que eram uma mistura de inocência e desejo. Num impulso ele tentou novamente abraçá-la, mas dessa vez ela não reagiu: os dois se beijaram demoradamente. Um frio gostoso subiu pelas costas de Luizinho porque nesse momento a prima curvou a perna e o joelho roçou as coxas trêmulas dele. Ao sentir algo muito excitado e vibrante ela suspirou de prazer.
A alça do vestido escorregou pelo ombro nu e macio, deixando ver o seio firme e saliente. Ele passou a deslizar a mão sobre o ventre dela, e já tocava a ponta molhada do vestido, quando ouviu alguém se aproximar.
O grito veio como uma explosão:
- Ritiiiinha!!?
- Oi, mãaae!
- É seu pai, ele voltou, quer falar com você!
Apavorado Luizinho se escondeu atrás de uma faxina de pendão que servia de coberta. Dali ficou observando-a. Nervosa e apressada ela reuniu e prendeu alguns bichos que tinham fugido. Descuidada, prendeu um, dois, três... inclusive Luizinho!!!
Feito um detento ele entregou-se num canto a pensar. E o que mais pensa um prisioneiro senão na infinda busca pela liberdade? E assim era Luizinho, um prisioneiro cuja tentação não era o simples desejo de ser livre, mas a vontade quase desesperada de ver Ritinha lavar roupa no poço do lajeiro.
O cachorro latiu novamente e a porta da cozinha foi aberta. Era Fátima.
- Ritiiiiiinha?
- Oi, mãe!
- Terminou?
- Tô terminando.
- Quando acabar venha me ajudar – disse, e entrou
. Luizinho tinha os olhos perdidos nas formas que afloravam na transparência do vestido molhado. Ele aproximou-se, carinhosamente ela o sacudiu com os punhos fechados.
- Ritinha...
- Depois. Aqui não!
- Ninguém vai ver não... Veja, até os bichos estão mais quietos agora!
E estavam mesmo. As galinhas aquietaram-se, e o galo pedrês, devendo ter entendido que a intenção de Luizinho não era disputar seu território, apenas rodou a cabeça, meio tolo.
Ela riu e os cabelos cobriram-lhe os olhos que eram uma mistura de inocência e desejo. Num impulso ele tentou novamente abraçá-la, mas dessa vez ela não reagiu: os dois se beijaram demoradamente. Um frio gostoso subiu pelas costas de Luizinho porque nesse momento a prima curvou a perna e o joelho roçou as coxas trêmulas dele. Ao sentir algo muito excitado e vibrante ela suspirou de prazer.
A alça do vestido escorregou pelo ombro nu e macio, deixando ver o seio firme e saliente. Ele passou a deslizar a mão sobre o ventre dela, e já tocava a ponta molhada do vestido, quando ouviu alguém se aproximar.
O grito veio como uma explosão:
- Ritiiiinha!!?
- Oi, mãaae!
- É seu pai, ele voltou, quer falar com você!
Apavorado Luizinho se escondeu atrás de uma faxina de pendão que servia de coberta. Dali ficou observando-a. Nervosa e apressada ela reuniu e prendeu alguns bichos que tinham fugido. Descuidada, prendeu um, dois, três... inclusive Luizinho!!!
Feito um detento ele entregou-se num canto a pensar. E o que mais pensa um prisioneiro senão na infinda busca pela liberdade? E assim era Luizinho, um prisioneiro cuja tentação não era o simples desejo de ser livre, mas a vontade quase desesperada de ver Ritinha lavar roupa no poço do lajeiro.