Acompanho, embevecido, a exploração de Marte por robôs que para ali despachou a engenhosidade humana. Agora mesmo, o Perseverance cavouca ...

Um caso a pensar

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Acompanho, embevecido, a exploração de Marte por robôs que para ali despachou a engenhosidade humana. Agora mesmo, o Perseverance cavouca o solo marciano em busca de sinais de vida no que foi o leito de um lago extinto há bilhões de anos. Faz isso depois de sete meses de viagem com o auxílio de instrumentos destinados à coleta de amostras e à observação da geologia.

Não menos, com a ajuda, também, de um pequeno helicóptero, o Ingenuity, o primeiro engenho fabricado na Terra a passear, por controle remoto, no céu de outro planeta. O Perserverance ainda dá conta de outra missão: transformar dióxido de carbono em oxigênio, tarefa sem cujo aprimoramento a permanência humana em Marte estará inviabilizada.


Diga-se que a exploração marciana já é uma história contada há mais de 60 anos, se nela forem inscritas as 56 missões enviadas por sete países, em sua maioria, para órbitas necessárias ao simples levantamento fotográfico. É coisa que vem da antiga União Soviética.

Pobre Marte que, em breve, estará à beira do congestionamento. Basta observar que, além da americana Perseverance, dali também já se acercavam, em fevereiro, a Hope (dos Emirados Árabes) e a Tianuwen-1 (da China), com missões menos ousadas.


Tudo isso é surpreendente. Porém, nada me foi tão espantoso e comovente quanto a cena retratada, em fevereiro de 2010, pelo robozinho Curiosity, dos EUA. Pois bem, no crepúsculo marciano a pequena nave ergueu suas lentes e viu sobre a linha do horizonte, dois minúsculos pontos luminosos. Um deles abriga todas as conquistas, todos os risos, todos os prantos, todos os fracassos e todas as tragédias da humanidade. É o planeta onde todos moramos. O segundo é a Lua que o orbita a uma distância média (um do outro) de 384 mil quilômetros.

Um dos cinco planetas do Sistema Solar, que podemos ver a olho nu, Marte dista da Terra 60 milhões de quilômetros (em sua maior aproximação). Isso é um nada, em escala cosmológica. Mesmo assim, vistos da nossa vizinhança, somos reduzidos a essa insignificância, a essa quase completa nulidade.

Quantas guerras, quantas disputas por bens e riquezas, quanta injustiça, quanto preconceito, quanta fome, quanta exploração dos recursos e criaturas terrestres seriam evitadas se, antes de dar sequência a seus atos, os poderosos nos vissem a todos como algo ínfimo e perdido na imensidão não do Universo conhecido – com estimados 100 bilhões de galáxias – mas apenas na beirada de uma estrelinha de quinta grandeza, no rabo da Via Láctea? Eis um caso a pensar.


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