A compreensão filosófica e científica da palavra Revelação apresenta sentido distinto da religiosa, e, em consequência, os métodos de inv...

Revelação

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A compreensão filosófica e científica da palavra Revelação apresenta sentido distinto da religiosa, e, em consequência, os métodos de investigação ou comprovação são, igualmente, diferentes.

Para os filósofos, revelação é a “manifestação da verdade ou da realidade suprema aos homens”, o que não deixa de ser algo inatingível, uma vez que, à medida que o homem progride, ampliam-se os horizontes do seu conhecimento. A Ciência compreende revelação como a descoberta e o entendimento das leis que regem a Natureza, ou, ainda, a invenção de algo que favoreça o progresso humano.

Outro ponto distintivo é que as filosofias espiritualistas aceitam a ideia de Deus como religião natural, isto é, com exclusão de teologias, próprias da maioria das interpretações religiosas. A Ciência ainda não inclui Deus em suas cogitações.

A Filosofia classifica a revelação religiosa, portanto, em histórica e natural. A histórica está presente nas tradições e relatos das religiões — “consiste na iluminação com que foram agraciados alguns membros da comunidade, cuja tarefa teria sido encaminhar a comunidade para a salvação. Neste aspecto, a revelação é um fato histórico, ao qual se atribui a origem da tradição religiosa.” A natural diz respeito à manifestação de Deus na Natureza e no homem.

O filósofo alemão, Immanuel Kant (1724–1804) analisou, à luz da razão pura, aspectos da religião natural e da revelada em seu admirável livro A religião nos limites da simples razão, publicado pela primeira vez em 1793. Algumas das ideias desse brilhante pensador germânico ainda permanecem atuais, como as que se seguem:

“A religião (considerada subjetivamente) é o conhecimento de todos os nossos deveres como mandamentos divinos. Aquela em que devo saber de antemão que alguma coisa é um mandamento divino, para reconhecê-lo como meu dever, é a religião revelada (ou que exige uma revelação). Ao contrário, aquela em que devo saber de antemão que alguma coisa é um dever antes que possa reconhecê-lo como mandamento de Deus, é a religião natural. [...]

Mas se admitir a revelação, sustentando que reconhecê-la e admiti-la como verdadeira não é para a religião uma condição necessária [...]. Disso decorre que uma religião pode ser natural ao mesmo tempo que é revelada, se for constituída de tal modo que os homens pudessem ou devessem chegar a ela graças unicamente ao uso de sua razão [...] que uma revelação dessa religião, num tempo e num local determinado, poderia ser sábia e muito proveitosa para o gênero humano, na condição contudo de que, a religião assim introduzida, tendo sido uma vez estabelecida e tornada pública, cada um possa se convencer daí em diante da verdade que ela comporta para si e para sua própria razão. Nesse caso, a religião é objetivamente religião natural, embora subjetivamente seja revelada.”

Seguindo o pensamento de Kant, podemos, então, admitir que o Espiritismo apresenta características de religião natural e de revelada. É revelação natural porque se fundamenta na fé raciocinada: “Fé inabalável é somente a que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade”. Na verdade, os estudos filosóficos que tratam da revelação natural tiveram origem nas ideias dos filósofos neoplatônicos, para os quais o mundo é produto da emanação divina (teofania) — Teofania é o processo natural que caracteriza a descida de Deus ao homem e a subida do homem a Deus. Como filosofia religiosa revelada, o Espiritismo:

[...] foi escrito por ordem e sob o ditado dos Espíritos superiores, para estabelecer os fundamentos de uma filosofia racional, isenta dos preconceitos do espírito de sistema. Nada contém que não seja a expressão do pensamento deles e que não tenha sido por eles examinado. [...].

A questão da revelação divina é amplamente questionada pela Ciência, cujos cientistas apresentam diferentes posicionamentos, desde os mais radicais, de negação absoluta da existência de Deus e, conseguintemente, de suas manifestações, até os que aceitam parcial ou totalmente a ideia de um Criador Supremo.

Tal divergência é especialmente observada no que se refere à criação dos mundos e dos seres vivos. Entende-se, portanto, porque a Ciência não apoia a tese criacionista de algumas religiões, segundo a qual Deus é o Criador Supremo do Universo e de todos os seres, vivos e inertes. Não valoriza também o pensamento teísta, defendido por algumas interpretações religiosas, que une ideias evolucionistas (inclusive a teoria evolucionista de Charles Darwin) à crença em Deus, como Criador Supremo.

Para a Ciência, propriamente dita, Deus não interfere nos processos da criação universal, nem nos seus mecanismos evolutivos. Tais argumentos, contudo, não impedem a existência de cientistas, em número cada vez maior, que aceitam a ideia de Deus, como Albert Einstein ou Francis S. Collins, iniciador e coordenador do projeto genoma. Como a ideia de Deus é inerente ao ser humano, acreditamos que no futuro a Ciência irá acatar a crença em Deus, estabelecendo, então, uma aliança entre a Ciência e a Religião, como esclarece Kardec:

[...] A Ciência e a Religião não puderam entender-se até hoje porque cada uma, encarando as coisas do seu ponto de vista exclusivo, repeliam-se mutuamente. Era preciso alguma coisa para preencher o vazio que as separava, um traço de união que as aproximasse. Esse traço de união está no conhecimento das leis que regem o mundo espiritual e suas relações com o mundo corpóreo, leis tão imutáveis quanto as que regem o movimento dos astros e a existência dos seres. Uma vez constatadas pela experiência essas relações, fez-se uma nova luz: a fé dirigiu- se à razão, a razão nada encontrou de ilógico na fé, e o materialismo foi vencido. [...].

Texto do livro Estudo aprofundado da Doutrina Espírita - Livro V, Editora FEB
Disponível em: www.amazon.com.br www.febnet.org.br/portal

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