Fácil capturar uma borboleta ou apanhar uma flor. Marisa vivia naquele mundo. Nunca se interessara por estudar: as irmãs, fazendo pós-graduação, levavam grossos volumes, consultavam internet, passavam noites acordadas para subirem na vida.
Elogiadas pela família, o pai vendera uma fazenda, a fim de vê-las no cume. Marisa era o patinho feio, considerada uma medíocre, dada a receitas culinárias anotadas num caderno, preparando o bolo do fim de semana. No dia em que as estudiosas alcançaram o diploma, foi festa até o clarear do dia. Muita gente compareceu para cumprimentos, elogios, exaltações.
Marisa preparou com toda a dedicação os quitutes servidos, porém era vista como a menininha acanhada, silenciosa, perita em pratos variados. Nada além. A gatinha borralheira da casa. As pós-graduadas, já mestras, se afastavam de Marisa, considerando-a menor, uma medíocre, o avental sujo, o jeito encabulado, o sumiço perante as manas coroadas pelo saber humano, a ciência, as letras, enfim.
Foram para o sul. Lá se uniram a amizades de respeito e influência. A que ficou escutava do pai, após o arroto do almoço, alisando a barriga protuberante e nua revestida de cabelos, indiretas e elogios às filhas que “venceram na vida”. Marisa se socava no quarto cheio de brinquedos guardados como lembrança da eterna infância e chorava.
Nunca se dera bem com o aprendizado: pau sobre pau, desde o básico, a cartilha e a tabuada, contas e leituras, enfim, gostava era de borboletas, flores e alimentos. As duas irmãs passavam mensagem no zap ou telefonavam dando notícias de estarem ascendendo. Uma professora, outra clínica. Compraram carros, apartamentos de luxo, Resolviam-se. O Sul maravilha, um encanto. Outra vida.
Resolveram casar-se no mesmo dia, gêmeas que eram. O pai e a mãe se prepararam. Marisa também iria. As núpcias celebradas. Convivas especiais. Marisa ajudava na confecção do luxuoso bolo, cujo tema eram borboletas e flores. Mestra em finesses culinárias. Foi elogiada. Sorriu