A peça de Sófocles, 'Édipo Rei', mostra o herói homônimo, cujo destino foi matar o pai e dormir com a mãe, pelo menos, essa é a ...

Édipo Rei: onde está o teu complexo?

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A peça de Sófocles, 'Édipo Rei', mostra o herói homônimo, cujo destino foi matar o pai e dormir com a mãe, pelo menos, essa é a história conhecida, inclusive pelo senso comum. Partindo, no entanto, para uma leitura analítica da tragédia, vamos nos deparar com uma complexidade digna do enigma da Esfinge, monstro cuja morte conferiu a Édipo o lugar de tirano, no sentido grego do termo, em Tebas, ao se casar com Jocasta, rainha e viúva do antigo rei, Laio.

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Freud, em seu ensaio "Interpretação dos sonhos", de 1900, traz pela primeira vez o Complexo de Édipo. Na peça, ele identifica aquilo que observa na clínica. Diz ele a respeito de Édipo: 'Seu destino nos comove apenas porque poderia ter sido também o nosso, porque o oráculo pronunciou a mesma maldição contra nós antes mesmo de nascermos.

Todos éramos talvez predestinados a voltar nosso primeiro ódio e desejo violento contra o pai, nossos sonhos nos convencem disso. O Édipo rei, que matou seu pai, Laio, e se casou com sua mãe, Jocasta, é apenas a realização do desejo de nossa infância. Desde então, porém, contanto que não tenhamos nos tornado psiconeuróticos, temos sido mais felizes em desprender nossos impulsos sexuais da nossa mãe e em esquecer nosso ciúmes do nosso pai'.

Há objeções acerca dessa identificação apontada por Freud, considerando que Édipo nunca havia visto Jocasta até o dia do casamento, por isso mesmo não sendo possível o desejo dele pela mãe. De fato, Édipo, quando bebê, ao ser exposto para morrer pelo servo de Laio, foi entregue aos reis de Corinto, Pólibo e Mérope, e adotado por eles como filho, e o herói desconhecia o fato.

Logo, o seu vínculo materno e paterno é com seus pais adotivos. Na peça sofocliana, é mostrado o temor de Édipo pela realização do oráculo, pois mesmo Pólibo tendo morrido, Mérope, sua mãe, está viva. Édipo fugira da possibilidade da realização do oráculo ao ir embora de Corinto, ele fugira do seu desejo, do seu destino, mas ao fazê-lo, ele segue ao seu encontro, quando se casa e vai para a cama com Jocasta, sua mãe biológica. Freud encontrou no mito o que ele, empiricamente, observou na clínica.

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