Já faz algum tempo. Li a notícia na coluna de João Pereira Coutinho, na Folha de S. Paulo, e não resisti a comentá-la. Uma estátua em bronze do navegador Cristóvão Colombo, descobridor da América, tinha sido recentemente retirada do Grand Park, em Los Angeles, EUA, pela Prefeitura da cidade. Motivo? Pressão de organizações indígenas americanas, sob a risível alegação de violências cometidas pelo navegador contra os nativos, à época do descobrimento. O leitor está rindo? Eu também ri. Não só pela comicidade do caso, mas também para não chorar de vergonha destes nossos tempos ridículos.
Meu Deus, não é só quanta ingenuidade mas quanta cretinice está contida nessa ocorrência esdrúxula. A virar moda, podemos nos preparar para uma verdadeira revisão geral da história da humanidade, de tal modo que só reste nos livros do futuro apenas aquilo que for considerado correto pelos iluminados, os quais também se julgam e se dizem corretos, só eles e mais ninguém. Círculo vicioso? Sem dúvida.
Pode-se imaginar que logo logo haverão de pedir, aqui no Brasil, a retirada de estátuas de Pedro Álvares Cabral que por ventura existam espalhadas pelo país afora. Afinal, trata-se, suponho, segundo a ótica dos descendentes dos nativos brasileiros de 1500, de um opressor e de um exterminador de nossos índios da época.
O sanitarista Oswaldo Cruz deve ser outro a ter seu nome riscado das cartilhas e das ruas, pois foi outro violento, ao tentar vacinar a população à força contra a febre amarela, na República Velha. Alguém mais? Sabe Deus. Mas aposto que nossos dois Pedros, o I e o II, certamente não escaparão. Pois que mais são imperadores e reis senão déspotas execráveis? Borracha neles? Provavelmente.
Sobre tudo isso, o articulista português observa que este é o paradoxo dos nossos tempos: “tão progressistas na aparência e tão medievais nos procedimentos”. Ao que modestamente acrescento: não é absolutamente que a justiça histórica deixe de ser feita. Não. O que se pede, simplesmente, é que se tenha um mínimo de bom senso, sob pena de sacrificar-se a credibilidade da própria História. Além do mais, o justiceiro de hoje bem pode ser o justiçado de amanhã. Exemplos não faltam.
Stalin no auge de seu poder na extinta URSS mandou apagar todas as fotos de seu inimigo Trotsky dos registros oficiais. Não adiantou. Hoje o antigo perseguido é muito mais acreditado que seu tirânico algoz.
Para completar, recente pesquisa (à época) demonstrou que boa parte dos jovens franceses da atualidade simplesmente nunca ouviram falar do Holocausto. Sim, nunca ouviram falar. Isto significa que nada a esse respeito lhes foi ensinado na escola, no colégio e na universidade, e que jamais leram ou viram nada sobre o tema. Veja-se que estamos falando da França, um dos países mais civilizados do mundo e que, por ter sido ocupado e humilhado pela Alemanha na Segunda Guerra Mundial, nunca poderia esquecer o nazismo e suas atrocidades. É grave, não é mesmo?
O esquecimento é também uma forma de desconstrução da História. E se esta é escrita e reescrita ao sabor das modas, nenhuma posteridade estará segura. Vida dura a dos historiadores sérios.