Existem amizades edificadas com tijolos e argamassa que as artes possibilitam construir, no sincero aperto de mãos e na troca de experiências de saberes, por isso são duradouras.
Com Waldemar José Solha se deu assim: construímos nossa amizade a partir de meado da década de 1970. Ele, volumoso em leituras, ensinava a arte de escrever e de pintar, eu, um jovem sorumbático vindo de Serraria com passagem por Arara, escutava mais do que conversava, ou dava pitaco sobre os assuntos abordados. Ouvia e peneirava tudo o que ele falava e assim aprendi muitas coisas que me têm sido úteis.
Com Waldemar José Solha se deu assim: construímos nossa amizade a partir de meado da década de 1970. Ele, volumoso em leituras, ensinava a arte de escrever e de pintar, eu, um jovem sorumbático vindo de Serraria com passagem por Arara, escutava mais do que conversava, ou dava pitaco sobre os assuntos abordados. Ouvia e peneirava tudo o que ele falava e assim aprendi muitas coisas que me têm sido úteis.
Meu primeiro encontro com Solha se deu no terraço de Nathanael Alves, quando ele vivia a euforia de dois prêmios concedidos ao romance Israel Rêmora, entre os anos de 1974 e 1975. A casa de Nathan era o lugar para onde convergiam os necessitados de um bate-papo alegre junto aos que conviviam com as letras.
Foi no tempo quando comecei a me abeirar ainda mais de seus conhecimentos a fim de recolher ensinamentos e abrir veredas por onde passariam minhas inquietações literárias.
Sobre uma indagação sobre o tempo que encontrava para escrever, Solha respondeu que escrevia à noite depois do expediente no banco, ou bem cedo, antes de sair para o trabalho. Mas estava sempre com papel ao alcance da mão para anotar uma frase ou uma ideia que surgia. Isso foi uma motivação para mim e passei, a partir de então, a carregar comigo uma cadernetinha e um lápis para eventuais anotações.
São mais de quarenta anos de uma amizade que recorro sem sufocar seu tempo nem exigir muito, como convêm às amizades francas, mas sempre necessitado de tirar dúvidas sobre a arte de produzir textos literários.
Sempre releio seus livros, alguns exigindo novas edições, como o formidável e inquietante A Canga.
Quando chegou às minhas mãos, com carinhosas palavras na dedicatória, como sempre tem sido, o livro Vida Aberta (Tratado Poético-Filosófico), um longo poema universal, logo comecei a leitura.
O livro Vida Aberta é um poema montado por fragmentos que, sequenciados, formam o arco-íris que nos conduz de um lado a outro do planeta arte. Ao final, o livro deixa a sensação de que somos a matéria humana formada de sonhos e de vento, uma obra humana ainda sendo lapidada. O poema ajuda a construir essa obra humana, a partir da arte, da poesia.
A poesia de Solha faz um rebuliço na gente, obrigando-nos a percorrer muitas veredas para seu entendimento. Isso é muito bom.
A literatura dele é para ser degustada lentamente, como caminhar de carro de boi. Nessa marcha lenta da leitura, andamos pelos tempos passados, pelos tempos atuais, sempre a percorrer terras desconhecidas. Percebe-se a presença da influência da literatura greco-romana. Solha é um poeta diferente, cuja poesia nos agarra e nos conduz para as irrequietas paisagens da alma.
Durante a leitura de sua poesia, ao seu modo, Solha nos rebola de um lado a outro, como o vento no terreiro removendo os gravetos ou os montinhos de areia, exigindo raciocínio rápido para sua compreensão.
O livro Vida Aberta é um poema global. A obra é um tratado poético-filosófico que, no momento oportuno, terá um espaço marcante na literatura brasileira nestes tempos tão carentes de algo novo. Um livro que enche nossa cabeça de sonhos.