Os governadores todos, eles todos, sem exceção, sabem perfeitamente que estão perdendo o tempo em querer modificar a natureza desse presidente que, num equívoco da maioria de cabeça feita pela Globo, o Brasil elegeu.
O erro já vinha de trás, quando o PT, na ambição de se manter colado na cadeira, guarnecido de meios para garantir sua política, lançou mão de uma mulher sem jogo de cintura, dura para sentar na cadeira mais demandada e maleável aos negócios impublicáveis da política.
Já foi dito que governar é, sobretudo, contrariar interesses.
O governo de Lula forçou o ingresso de muita gente do barraco na chamada classe média baixa. Desagradou uma elite histórica que, bem-nascida e bem de vida, exige de quem vem de baixo o mérito que nem sempre a elite apresentou para se manter de cima.
Tive amigos, companheiros de classe, que se indispuseram com as facilidades oferecidas ao ingresso do negro e da empregada doméstica num curso de melhor acessibilidade à classificação. Vi empresários das minhas relações de amizade, ganhando dinheiro com o aumento de demanda a seus produtos, escumando palavras de ódio, de rancor mesmo a “esse governo de ladrões”. Um deles gritou-me nos ouvidos: “Dinheiro não ficou para se dar, dinheiro se ganha e se guarda, seja como for”. Não precisa lembrar que o Bolsa Família o ajudara na expansão dos negócios. Mas o bem de raiz do preconceito só morre com a pessoa.
Dilma, uma grande mulher, não foi, não era o melhor para aquele momento. O mesmo aconteceria se fora um Tarso Genro, duro e da mesma envergadura da guerreira que vi sentada na noite do Congresso para receber a sentença do impeachment, ouvindo os vivas de Bolsonaro ao torturador maior dos anos de Médici. E com a mesma coragem luzidia da vanguardeira Palmares de 1970.
Ela não nasceu para essa flexibilidade de posições, ora ponta-esquerda, ora ponta-direita, dando-se bem em todas elas como sabem fazer muitos que foram seus ministros e aliados, até líderes, hoje no time bolsonarista. Sem esconder a cara e sem mais opinião pública que os censure. É da política. No tempo que existia jornal, opinião pública era a opinião publicada, mas com uma diferença fundamental; havia O Globo, o Estado de São Paulo e a Tribuna da Imprensa de um lado e Última Hora, Semanário e Diretrizes do outro. Hoje é uma voz só para todos os gostos, e com uma vantagem das grandes: comum a cultos e analfabetos.
Pois bem, nem esse conjunto globalizado de voz única vai conseguir mudar a natureza de má conduta de Bolsonaro. Não é um problema de ideologia; ideologia, mesmo troncha, tem Olavo de Carvalho, que o abandonou. É simples má conduta que nem o Exército de Caxias conseguiu corrigir.
Pau que nasce torto...
A grande arma dos governadores estaria em sua liderança fechada sobre as bancadas. Existe isso?