Apesar da cidade estar sempre em efervescência, os moradores daquela rua são pessoas que já estão colhendo os frutos de suas lavouras do viver. Por isso, a calmaria e o sentimento de comunhão lá se enraizaram.
A moradora de rua, daquele bairro, é uma senhora que gasta seu tempo observando o movimento das casas.
Na casa azul, todos os dias, filhos e netos chegam para o café da tarde.
À noite, depois que os visitantes saem, ela bate na porta e faz sempre a mesma pergunta: “tem pão velho?”. O senhor abre, responde que sim, e lhe entrega um saco com alguns pães. Essa cena se repete há algum tempo.
Um dia, intrigado, antes de lhe entregar o saco, quis saber por que ela pedia sempre “pão velho”, em vez de pão.
- Por saber que receberei.
Todos os dias tem um café da tarde na casa do senhor, com guloseimas fresquinhas. Vejo as pessoas chegarem com pratos e sacolas. Tenho sido testemunha, que sempre há pão velho. Aquele endurecido pelo tempo, sem a maciez do novo, que já não tem o mesmo sabor e, por vocês não aproveitarem a essência deles para outros fins, é substituído e esquecido na sacola. Quando não podem ser realmente usados, são jogados no lixo. Então, antes disso, uso para matar minha fome. Ele escutou atento aquelas observações, comparou com a vida e com o agir dele para com os outros. Quantas pessoas, e coisas, ele deixou se transformarem em “pão velho”.
Pediu licença, entrou e trouxe pães fresquinhos.
- Os de ontem serão aproveitados e, a partir de hoje, a senhora receberá “pão”.