Escrever é um ato solitário, requer silêncio e meditação, entretanto ao final é prazeroso o produto desse isolamento, mesmo sabendo que sã...

Os leitores de cada dia

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Escrever é um ato solitário, requer silêncio e meditação, entretanto ao final é prazeroso o produto desse isolamento, mesmo sabendo que são poucos os leitores. Somos leitores de nós mesmos, manuseadores de nossos próprios livros.

Uma vez Ariano Suassuna falou que se dava por satisfeito sabendo que seus livros tinham sido lidos por uma pessoa. Dizia isso para demonstrar quanto apreço tinha pelos livros,
pela literatura, pela arte e o carinho pelos leitores.

Nunca deixará de existir alguém buscando um livro, mesmo que o mundo cibernético arrebanhe para seus arredores apreciadores de livros. O contato com o papel, o manuseio das páginas, e o cheiro das folhas continuarão atraindo leitores.

O escritor deve, portanto, buscar constantemente quem os leiam. Leitores se constroem quando têm às mãos um livro com bom conteúdo e produtor atraente. Junto com outros ingredientes de estímulo, duvido não cativar jovens para a leitura. Um processo de leitura que começa em casa para depois chegar às escolas.

Sabemos que os livros disputam com outros meios de entretenimentos e saberes esse prazer de aceso à cultura, e somos otimistas quanto ao seu futuro, pois nunca deixará de existir, mesmo em forma diferente que não seja em papel.

Alegra-nos profundamente ver crianças e jovens frequentando livrarias, apalpando livros, discutindo enredos de seriados e filmes que assistiram. Parece utópico, mas isso acontece. Basta ficar algum tempo numa livraria arejada para constatar isso. Gosto de observar esses momentos.

Cedo apresentei nossa biblioteca aos meus filhos, e assim procedia com os netos, de modo mostrar o caminho dos livros.

Como dizia o mestre Ariano, basta um solitário leitor para a satisfação do escritor.

Enquanto existirem frutos da imaginação do quilate de “Divina Comédia”, “Os Miseráveis”, “Crime e Castigo”, “Dom Quixote”, “Cântico dos Cânticos”, a criatividade de Machado de Assis, a poesia de Drummond, de Pessoa, de Neruda e uma montanha de obras universais produzidas por Goethe,
Victor Hugo, Tolstoi, Proust, Rosa, José Lins vamos sobrevivendo como escritores, esperando novos leitores.

Se narrar é prova de amor, como se expressou Nélida Piñon no seu no livro “Uma Furtiva Lágrima”, porque “perpetua a fala da alma, restaura a cresça no que há por trás da harmonia e da discórdia”, por meio da narrativa haveremos de conquistar leitores.

A leitura de certas narrativas carregadas de enigmas é sustento para a alma. Apalpando o papel onde a escrita harmoniza as ideias, nos comovemos. Os invisíveis anjos comandando as artes nos conduzem ao misterioso planeta das letras, puxa-nos como um imã para perto desse mundo.

Nunca deixarei de acreditar na força do livro como antídoto para curar todos os malefícios da sociedade, porque reconstrói paisagem sadia na nossa vida mesmo que os caminhos sejam escuros e pedregosos. Somente o livro é capaz de mudar o mundo, porque a arte e a palavra salvarão a humanidade.

Nós, teimosos escritores, munidos da escrita e do pensamento, nossas armas, cada dia laçamos leitores. Leitores sempre estarão em busca de boas histórias, como revelam recentes pesquisas que apontam o crescimento da leitura, inclusive entre jovens.

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