Nos últimos dias eu tenho me sentido olímpico, quase um deus atleta grego desgarrado, sem a imortalidade, exceto a efêmera eternidade do instante marcado na memória, do segundo mágico perdido em algum momento das décadas já vividas. Moderno e antiquado ao mesmo tempo, feito os atletas que aparecem de calções enormes em filmes preto e branco com imagens céleres e, ainda assim, ligado às ultras câmeras dos celulares da última geração já em vias de seres substituídas, pré-obsoletas em sua modernidade.
O garoto ali postado na memória é um arremessador de sonhos, sacador de desejos, marcador de sorrisos, saltador de possibilidades. Olímpico aventureiro diário, que se materializa nas disputas em ciclos de quadriênios. Ele é capaz de sorrir e chorar com as vitórias e derrotas e muito mais ainda com as histórias de cada guerreiro armado com o corpo, bolas, raquetes, arcos, lutas, pesos e sapatilhas.
Os campos olímpicos se materializam em campinhos de terra batida, quadras de piso de cimento crespo, muros feitos de blocos de tijolos que serviam de traves para se equilibrar, obstáculos em formato de muretas, pedras arremessadas como discos, dardos ou martelos.
A camisa suada, os pés descalços e a linha de chegada não tão bem definida. O pódio, esse mero detalhe ansiosamente sonhado por muitos, é só uma questão de percepção. O que conta no íntimo é ser "o mais rápido, o mais alto, o mais forte" de si mesmo. Parafraseando Mahatma Gandhi, a medalha da alegria "está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido e não na vitória propriamente dita". O que é a vitória senão o fato de se estar bem consigo próprio.