Saímos de Roma Itália afora, em direção à Toscana. A nossa viagem estava sendo muito agradável, circulando por estradas vicinais alternando com as auto-estradas. Viajávamos ao som das músicas que havíamos comprado em Roma, na maior parte rock italiano dos anos ‘50 e ‘60. Lembro-me muito bem de Luglio, Legatta a un Granello di Sabbia , Roberta, Aprite le Finestre, Nella Vecchia Fattoria,
Marinai Done e Guai, Vechio Scarpone, que foram as que mais me impressionaram. Lindas!
Passamos primeiro pela Úmbria, onde tivemos a oportunidade de conhecer uma aprazível cidade, típica da região: Orvieto, onde pudemos visitar o Pozzo de San Patrizzio. Ficamos tão encantados com a cidadezinha medieval que programamos a nossa volta, o que realizamos cinco anos depois.
Depois entramos na Toscana. Dois dias após conhecermos Assis e Arezzo, anoitecemos em Poggibonsi, na Toscana. A cidade foi escolhida por razões estratégicas: fica no centro da Toscana, Situa-se ao lado da estrada S-2, derivada da A-1, a meio caminho entre Siena e Florença. Pequenina cidade, de poucos encantos, abrigou-nos durante nossa breve temporada na Toscana. Lá, ficamos hospedados no Toscana Ambassador Hotel, o qual recomendamos: excelente, moderno, muito confortável, comida saborosa, delicioso vinho. E no início da baixa estação ostentava bons preços. Em seu restaurante tivemos a oportunidade de saborear uma divina trippa alla toscana regada ao chianti rosso.
Fica pertinho da estação de trens, onde se pode chegar a pé. Na plataforma da estação, encontramos uma estátua toda feita de latinhas de sardinha empilhadas, e que era a cara do nosso saudoso Ivo Bechara. Tem até a bandana na testa que Ivo usava!
Com destaque para as suas confeitarias, Poggibonsi fica no centro da região produtora de um dos melhores vinhos do mundo: o Chianti.
No terceiro dia na Toscana fomos conhecer San Gimignano. A cidade é um belo exemplar de cidade toscana: erguida sobre uma colina, protegida por uma muralha de pedra. Estacionamos logo na entrada, e seguimos até as muralhas que configuram o anel externo.
Através da Porta de San Giovanni tomamos a via principal, de mesmo nome, até a Piazza della Cisterna. Esta praça, muito graciosa, tem a forma triangular e em seu centro um poço que foi construído no ano de 1297.
Dobrando à esquerda, logo encontramos a Praça da Catedral, onde se situa o Palazzo Comunale, que abriga o Museu Cívico e a Pinacoteca de San Gimignano. Através do palácio, tivemos acesso à torre mais alta da cidade, a Torre Grossa. Subimos centenas de degraus acima até o teto, 54 metros de altura, de onde pudemos descortinar uma vista panorâmica da região. Devido à quantidade e à altura das suas torres San Gimignano é chamada de “Manhattan medieval da Toscana”. Construídas nos séculos XII e XIII, já foram 72, porém hoje são apenas 14, ao todo.
As torres foram construída por famílias abastadas rivais da cidade, e eram símbolo de poder. Elas eram edifícios residenciais: o térreo era reservado para as atividades comerciais, o primeiro andar continha a habitação dos seus proprietários e no andar superior ficava a cozinha.
A região de San Gimignano também é conhecida por produzir um vinho típico da Toscana, muito apreciado pelos conhecedores: o vinho Vernaccia.
De San Gimignano tomamos a direção oeste, entre vinhedos e moinhos, até chegar a Volterra. Esta cidade também se situa sobre um planalto elevado. Guardamos o carro no estacionamento La Dogana, no subterrâneo, na extremidade sudoeste da cidade.
Volterra é outra cidade típica da Toscana. Nela predomina a arquitetura medieval, porém guardando muitas evidencias da Renascença. E inúmeros traços da civilização etrusca, da qual foi a capital.
Os etruscos foram dominados pelos (então) bárbaros romanos. Estes por sua vez absorveram a sua cultura (eram mais evoluídos que os romanos). Devido aos seus aspectos medievais a cidade de Volterra foi cenário de um dos filmes da saga de vampiros adolescentes, Crepúsculo. A cidade tem um castelo assombroso, a Fortaleza Medicéa, que não pudemos visitar por ser hoje a Casa de Reclusão de Volterra. Mas só de fora já dá pra sentir arrepios...
Caminhando pela Via Porta all'Arco alcançamos a Via Antonio Gramsci, e daí seguimos pela Via Don Minzoni até o Palazzo Tangassi, onde está localizado o Museu Etrusco Mário Guarnacci.
Este museu é o que contém mais elementos da civilização etrusca na Itália. É uma magnífica exposição daquela civilização extinta. Contem, por exemplo, a maior coleção (600!) de urnas cinerárias, uma das marcas daquela civilização.
Lá ficamos impressionados com sinais da civilização romana, como, por exemplo, o hábito das reuniões sociais com os participantes semi-deitados, comendo cachos de uvas. As urnas são magníficas, e registram cenas da classe dominante da civilização etrusca.
Depois de passarmos a tarde no museu, descemos pela Via di Sotto, vendo lojas interessantíssimas com belas vitrines, como uma loja de lidas jóias feitas de vidros coloridos. Chamou-nos a atenção a policromia da loja.
Compramos algumas lembranças e paramos num café para passar o frio com uma pasta acompanhada por vinho vernaccia, seguida de delicioso té caldo (chá quente). Aquecemos-nos por dentro e por fora.
Quando fomos pegar o carro, demos uma olhada nos arredores. Rua abaixo à direita tem um portal que é outro dos muitos vestígios da civilização etrusca na cidade e seus arredores.
Mirando o poente vimos, no horizonte, um reflexo de água. Perguntei ao siciliano que estava ao meu lado que lago era aquele. E ele respondeu que não era lago. Era... il mare! Pois é, de lá é possível ver o mar, a 42 quilômetros de Volterra!
Essa foi a última imagem que guardamos de tão agradável visita. Voltamos para Poggibonsi, onde jantamos uma saborosa tripa alla toscana, regada a vinho chianti!
E dormimos mais cedo, pois dia seguinte iríamos reviver Florença.