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- Eu, candidato pelo PT? Jamais seria eleito para o governo do estado, Derly: O que a oposição argumentaria para o povo, depois de contar que fui à casa do José Américo de Almeida dizer a ele que A Bagaceira, tido como o romance que livrou a literatura brasileira da inglesa, foi feita em cima do Hamlet, e que ele foi o autor intelectual da morte de João Pessoa, e que escrevi um livro com a tese de que Jesus nunca existiu, e que perdi tudo que tinha e o que não tinha num longa-metragem chamado “O Salário da Morte”?: “É doido!”
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Dirijo um comercial de TV no Trevo Motel, lá na BR, e o Joca Moura – da Real Propaganda - se oferece para me dar carona pra casa. No que saímos juntos, no carro dele, levamos uma vaia dos homens parados diante da antiga Saelpa, que ficava ao lado.
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De repente, uma dor violenta – cálculos renais! - durante o expediente no Banco do Brasil. Subo pro departamento médico e, ao me deitar na maca estreita, ela empina, despejando-me violentamente no chão, onde morro de rir.
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Vínhamos de Natal , eu – com uns 35 anos - dirigindo, quando meu filho Dmitri, mais ou menos com dez, - no assento de passageiro – me disse considerar-me velho. Não sei de onde me veio a resposta gozadora: “É? Pois fique sabendo que um dia você vai me alcançar”. “Como assim?” “Bem, quando você estava com um ano, eu estava com vinte e cinco. Minha idade, portanto, era vinte e cinco vezes a sua, não era?” E ele: “Era”. “Mas quando eu tiver cinquenta, você terá vinte e cinco, e minha idade será, portanto, apenas duas vezes a sua, não é?” Ele, surpreso: “É mesmo!”. “E quando você tiver cinquenta eu não terei cem, mas apenas setenta e cinco!” E ele: “Oxente!”
Ele morreu com cinquenta, quando eu tinha setenta e cinco.
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O dono dos cavalos, quando me viu de esporas, nas filmagens de “Soledade”, lá em Pilar, me perguntou se eu era bom cavaleiro, e eu: “Péssimo”. “Então nem suba – disse - , que estes são de vaquejada: triscou, caiu”. Vou ao mineiro Paulo Thiago, diretor do filme e lhe digo isso, ele não quer conversa: “Monte!” Volto à montaria, ouço diretor comandar, no megafone: “Câmera! Ação!” , ergo o pé esquerdo, piso no estribo, alço o direito, sento, e é uma cena de rodeio: o alazão se dana a corcovear e a girar, o Paulo Thiago grita: “Pule!”, me ejetei pra trás. Minha sorte foi que estava de paletó, chapelão e caí no mato.
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Eu fazia parte de uma comitiva de artistas pra falar com o novo Governador da Paraíba, o romancista Ernani Sátiro, quando vi o também romancista José Bezerra Filho, que nos representava, ser interrompido logo de cara pelo homem, quando disse: “Sabemos que o senhor é um homem aberto”, e ele: “Mas os cofres estão fechados”.
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O colega do BB - com quem eu jamais falara - voltou-se, na fila do caixa, e me parabenizou pela exposição “Caras Pintadas”, 1994, que estava acontecendo na agência centro, dentro da campanha contra a fome a miséria, do Betinho. “Obrigado”, eu disse. E ele: “Pelo menos parou de escrever merda”. Dei um berro: “Como é que é?!” Ele insistiu, indiferente ao meu tamanho e à minha ira. Dei um berro maior: “Imbecil!!!” , coisa de que, depois, me arrependi pra burro.
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Vou para as filmagens de Soledade – adaptação de A Bagaceira, em que sou o “Delegado” -, Zé Bezerra pede pra ir comigo, doido pra rever um “set”, anos depois d´O Salário da Morte, que produzíramos juntos, mais o povo de Pombal. Quando me preparava pra continuar a cena começada no dia anterior, soube que o ator que fazia o meu lugar-tenente estava preso por assassinato, na cadeia de Pilar, com o que o diretor – Paulo Thiago – perguntou – com as roupas e o chapéu do personagem nas mãos - se o Bezerra poderia colaborar, substituindo-o. Foi assim que, no filme, saio a cavalo com um comparsa e chego com outro ao destino... e ninguém notou.
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Peregrino Júnior, quando nos preparávamos para a entrega, em solenidade, do Prêmio Fernando Chinaglia pelo meu primeiro romance, “Israel Rêmora”, me disse: “Você, agora, deve estar doido para vir morar no Rio, não é?” E eu: “Não. Mas por que a pergunta?” “Porque, se vier, não vai escrever mais nada que preste, como eu!
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Minha cunhada Ilka – que mora em Brasília – viu, ao meu lado, eufórica, a comissão julgadora do INL - Instituto Nacional do Livro -, anunciar que o vencedor do concurso 1988 de literatura era o meu romance “A Batalha de Oliveiros”. Ante minha falta de demonstração de qualquer entusiasmo, disse: “Por quê?!” E eu: “Porque não adianta nada...” E não adiantou.
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Wanini Emery, ao terminar de cantar pela primeira vez, ante o coral da UFPB, com Elton Veloso, o dueto de amor que eu e o maestro Eli-Eri acabáramos de escrever para o concerto “Os Indispensáveis”, sentou-se no chão, chorando!
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A coreógrafa Stella Paula viu um ensaio de minha peça A Verdadeira Estória de Jesus, perguntou-me o que eu queria ver coreografado nela, descrevi-lhe uma das cenas e - quando fui acionar o gravador com a trilha sonora de Eli-Eri Moura - me interrompeu. Passou, então, a comandar os movimentos do elenco. Perguntou-me, depois, se era aquilo que eu queria, eu disse que sim, ela deu a ordem: “Agora vamos com música!” E o que vi foi um milagre!
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Os personagens dos romances que escrevemos, frequentemente nos surpreendem. Quando eu criava o “Relato de Prócula”, botei meu amigo – na vida real – Doutor Atêncio Bezerra Wanderley, médico, dizendo ao Padre Martinho, depois de salvá-lo da tentativa de suicídio:- Por que acha que a vida não tem sentido, Padre? Será que os pés têm finalidade? As mãos? E o coração? Pulmões? O aparelho reprodutor? Os olhos? Ouvidos? Estômago, intestinos, nariz? O cérebro? Pois bem: se cada parte do corpo tem lógica e objetivo claro, acreditar que o conjunto seja absurdo, não é um absurdo?