Agosto, do desgosto…
quem teria inventado
tão insana baboseira?
Como não ser de bom gosto,
mês que vem com tantos ventos,
com a carícia da esperança
de que tudo se renove?
Há mais graça e poesia,
nesta sã coreografia,
onde a bela natureza
dança com seu corpo inteiro?
Como não ser de bom gosto,
mês das árvores e arbustos,
dos coqueiros e palmeiras,
acenando para o mundo
com doçura e alegria?
E as ondas deste mar,
que revolto sem revolta,
dançam como se abraço
neste céu quisessem dar?
Contrapondo-se ao balé,
tantas nuvens rodopiam,
e quiçá também desejem
nestas ondas se jogar…
Donde vêm, ó lindos ventos...
Em que terras tu colheste
tal vigor imensurável
que trazes de tão longe
nestas brisas de amor
a varrer a natureza
com vontade de beijar?
E passam, como passam…
Nem dá tempo de contar
o que viram e ouviram,
das paragens muito além
do que pode o nosso olhar.
Lá por cima do horizonte,
quase que sem perceber,
eles correm para nós,
mas não ficam, nem demoram,
pois há muito pra soprar.
Mexem aqui, bolem ali,
numa palma, numa flor,
e nas nuvens é que mostram
que a altura nem é longe.
Como pode de desgosto,
ser o mês que antecede
a florida primavera
das acácias e ipês?
De desgosto nada há,
no que Deus aqui criou.
Só quem Nele nunca pensa
é que pode ser um dia,
a favor de tal bobagem,
que o homem imaginou.
E agora ele assobia,
lá na fresta da janela,
como se a cochichar
“sai da frente, eu quero entrar”.
Entra vento, sê bem-vindo,
varre tudo que quiseres.
Vem dali, vai acolá, que aqui é teu lugar.
Ao passado me levaste,
quando a ti cantei um lá.
Na calçada frente ao mar,
uma música aprendi,
que falava dos coqueiros,
do cabelo da morena.
Do teu canto no telhado
para a lua apreciar...
Doce tempo inocente,
que esquece de ser gente,
como agora quero ser,
pra com ele me volver.
Vou fechar essa janela,
pra que aqui possas ficar,
Quero sim, que venhas sempre.
Mesmo após a primavera.
Só não quero que demores
ao Agosto que virá.
Porque nunca de desgosto,
esse mês aqui será.
Tchau, Agosto! Vai em paz,
que setembro vem aí.
É assim em nossa vida,
nada fica, tudo passa.
Só não quero que se vá,
esse canto que ora ouço,
na janela acolá,
que o vento traz do mar.
agosto 01, 2021
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