Quando minha filha chegou em casa com os dois últimos livros publicados por Walter Galvão, acompanhávamos as notícias dos instantes que precederam os últimos dias de sua vida.
Em décadas, ele recolheu numerosos amigos, entre os quais, Angélica e eu nos incluímos, que sentiram sua inesperada partida.
Sentimos profundamente o modo inesperado como ele partiu sem que houvesse despedida. Carregaremos a dor de não mais contarmos com a proximidade de sua amizade e a leitura de seus artigos, a menos que recorramos aos livros, onde deixou seu pensamento. Não chorei a perda do amigo porque todas minhas lágrimas já foram vertidas, mas guardarei a calor da mão estendida e o abraço como patrimônio de memória.
Galvão partiu cedo. Relativamente cedo, levando em conta que aos 65 anos de idade, no seu caso, existia muito vigor para as artes. Em quase cinco décadas – na poesia, na música, na crônica e no jornalismo combativo – ele construiu textos primorosos. Homem íntegro, estampou ética, foi modelo de humanista garimpado na riqueza do relacionamento e no abraço.
Nos textos que compõem o acervo publicado durante décadas na imprensa e nos livros publicados, vemos um homem desesperado para ver um mundo com os brilhos da paz e a fartura na mesa. Tinha elevada sensibilidade para a arte de escrever e sentir a poesia ao seu redor. Uma escrita comprometida com as causas do povo. Sua análise concisa dos fatos vai fazer falta.
Poeta que valorizava a vida, tinha compaixão de semelhantes sem agasalho. Sabia cativar as pessoas. Hospedava grandes amizades, e seus gestos faziam crescer a admiração por sua pessoa e sua obra.
Praticava uma poesia construída nas emoções, e publicava textos dos quais emanavam reflexão muito além de nossos conhecimentos, por isso serão duradouros. Paciente, era poeta que retratava a alma e foi grandioso na acolhida de jovens autores e de poetas desolados nas páginas que editava. Tinha um modo peculiar de espalhar o pólen da paz e da concórdia que atravessava as fronteiras da alma.
Nunca se teve notícias de que Walter Galvão havia magoado alguém com palavras ou gestos. Afastava-se de quem fazia macaquices para lhe agradar.
As redações dos jornais sempre estiveram precisando da presença dele, porque na Imprensa atuava em todas as áreas com desenvoltura e denodo. Das páginas dos jornais saiu para o livro com a mesma grandeza, e na vida profissional teve destacada passagem pelo serviço público.
Era dotado de excepcional percepção dos meandros da profissional, ele fez prosperar o jornalismo crítico, soube descobrir as inquietações da alma e escreveu artigos que ajudam a entender as mudanças da sociedade de sua época. Sem ele, acredito, o jornalismo paraibano empobrece.
Foi jornalista com requinte intelectual, pomposo nas articulações de suas ideias, idealista que apontava a literatura como forma de criar a identidade nacional. Criterioso ao expor seu pensamento nos artigos publicados.
Mantivemos uma salutar camaradagem em quatro décadas. Ele sempre expressava polidez na nossa convivência. A redação do jornal ficou mais triste.