Até o final dos anos de 1960, na Paraíba vivia um caboclo que tinha a alma cheia de serenidade e sabia cantar o sentimento do povo de sua terra. Ele nasceu em Itabaiana e conquistou o Brasil com seu jeito simples de narrar nosso viver e nosso sentir. Sua poesia, eloquente, espalhava emoção com raízes da terra.
Seu nome é Severino de Andrade Silva, mas ficou conhecido como Zé da Luz, o poeta que escreveu os livros Brasil Caboclo e O Sertão em Carne e Osso, que tiveram boa acolhida e o reconhecimento de escritores como José Lins do Rego e Manuel Bandeira, somente para citar estes dois nordestinos de alma grande. Não foi um caboclo letrado, mas a maneira como expressou o sentimento do mundo, o olhar sensível para as coisas ao seu redor, o transformou num símbolo da literatura cabocla do Nordeste, reconhecido pelos seus conterrâneos.
A Paraíba tem economia capenga, suas expressões políticas reduzidas, mas sobra a arte como repercussão maior. Não quero nomear, mas temos vultos que se destacaram na literatura com o merecido espaço, e outros que não ganharam o mesmo estrelato porque preferiram ficar na Paraíba, mas igualmente de grande valor.
A simplicidade dos poemas de Zé da Luz ganharam asas a partir da leituras numa rádio de Campina Grande, ao final dos anos de 1940. O governador Argemiro de Figueiredo fez publicar pela A União a primeira edição de Brasil Caboclo, um livro que tem a alma do brasileiro dos rincões. Largado ao esquecimento, décadas depois a editora Acauã, de Carlos Roberto de Oliveira, Gonzaga Rodrigues e Nathanael Alves, reeditou esta obra que exprime sentimentos e exterioriza o que está escondido na alma do povo. O poeta Eudes Barros deu a grande definição deste livro:
“Não há nada de artificial, de falso, de literato nos versos de Zé da Luz. É um livro de carne e osso. Um livro que vive. Um livro humano”.
Depois de Catulo da Paixão Cearense, é Zé da Luz o mais interessante versejador sertanejo que apareceu, porque canta a simplicidade do povo, porque sua poesia penetra na alma e se apodera de nós. Tinha gosto pelo belo, a tudo expressando com a pureza da alma. Com originalidade e lirismo, fez realçar e pôs em revelo a beleza da cabocla dos engenhos da Paraíba. Com seu jeito e modo de olhar ao redor, às paisagens deu vida. Denunciou as amarguras causadas pela falta de políticas públicas que ajudassem a amenizar o sofrimento, cobrou solidariedade diante da dor causada pelas mazelas das estiagens. Não aceitava a exploração do homem pelo homem. Poeta que olhava todos como iguais. Talvez fosse um poeta triste.
O poeta Manoel Bandeira e o escritor José Lins do Rego tornaram Zé da Luz conhecido em todo o país. Este poeta que deu vida às palavras, haverá de ser reconstruído. Mas Itabaiana não sabe reconhecer a importância do poeta que ganhou espaço entre as estrelas que fulguram na literatura, essa arte produzida sem seguir os padrões acadêmicos.