Se hoje alguém me perguntar o que mais sinto saudades, eu digo pesarosa, da minha alegria. Gosto de gargalhar, de sorrir para desconhecidos...

Um mundo alegre, por favor

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Se hoje alguém me perguntar o que mais sinto saudades, eu digo pesarosa, da minha alegria. Gosto de gargalhar, de sorrir para desconhecidos, de demostrar satisfação e carinho com abraços apertados. Ultimamente, isto é impossível. Claro que a situação não está fácil para ninguém e as perspectivas futuras não se mostram muito otimistas. Percebo, numa quase unanimidade, que as pessoas andam carrancudas, cheias de verdades, raivosas, tanto que retraio minhas demonstrações de euforia.

Venho mudando hábitos, acordando com medo das notícias que virão naquele dia, me policiando sobre o que escrever.

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Não está fácil manter a alegria. Não está fácil conversar com as pessoas e não poder ser verdadeira (nunca sei se a minha verdade é compatível com a verdade do outro).

Logo eu, tão espontânea ao falar, tenho ficado muito calada.

Tive o privilégio de nascer em uma família alegre, conversadeira, contadora de casos e piadas. Para terem ideia, no enterro do meu avô Genésio, vieram todos os irmãos dele, filhos, sobrinhos, netos, amigos, enfim uma grande reunião para homenageá-lo. Ao contrário da tristeza que eu imaginava, após o enterro, nos juntamos ao redor de uma mesa e foi um festival de lembranças alegres, besteiras, casos e piadas que meu avô contava. Posso afirmar que foi a reunião mais alegre e cheia de risadas que participei. Provavelmente, o vovô adoraria estar presente.

Estou necessitada de felicidade, aquela que preenche cada poro, cada fio do cabelo, que faz com que os olhos fiquem umedecidos e brilhantes.

Sinto falta até de bares a beira-mar, lotados, com cervejas quentes, peixes fritos, mesas repletas de amigos e outras pessoas que, após algumas goladas, se tornam tão íntimas que compartilhamos rapidamente os segredos.

Sinto saudades das últimas quintas-feiras do mês, quando ia ao Espaço Cultural assistir às apresentações da Orquestra Sinfônica de João Pessoa. Era uma regalia que me fazia feliz, igual quando se ganha presentes.

E aqueles shows com milhares de pessoas, onde eu acompanhava o cantor sem saber absolutamente nenhuma letra de música, um calor escaldante e a certeza de estar renovando toda minha energia. Um puro prazer. Eram outros tempos.

Talvez, eu esteja numa fase lunar, ou que nestas tardes alaranjadas que estampam tanta beleza, eu me sinta culpada por não reverenciá-las com a alegria que merecem. Talvez, sejam as minhas emoções que teimam sonhar com o desconhecido, com as viagens que ainda não pude fazer.

Quem sabe, seja uma simples saudade do futuro que espero, irá traçar novos destinos desatados de nós e dúvidas.

Quero acreditar que o mundo irá mudar para melhor, que retomaremos as amizades queridas, que voltaremos a ser livres para demonstrar nossos sentimentos, que ao defendermos nossas crenças, seremos respeitados por isso, sem necessidades de discussões. Realmente o que mais quero e espero é não ter nenhuma máscara que me impeça de sorrir e que minha boca fique descoberta para demostrar com sorrisos, todo o carinho que brotar.

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