Num dos episódios de “The Crown”, o personagem do príncipe Philip recebe a visita dos três astronautas que foram à Lua. Ele está ansioso pelo que vai ouvir. Espera um relato condizente com a extraordinária experiência pela qual aqueles homens passaram. Como tem lá os seus dilemas metafísicos, imagina que o grupo possa lhe dar alguma indicação de que vale a pena crer em Algo Maior.
A conversa, quanto a esse aspecto, é decepcionante. Os astronautas estão mais preocupados com detalhes técnicos do que com alguma revelação transcendente. Mostram-se alheios à poesia que o marido de Elizabeth vê no Cosmo. A Lua só é bela de longe; de perto, não tem nada do reluzente corpo astral que ao longo do tempo vem inspirando os namorados. Ao dar aqueles passos sobre o solo arenoso, depois de emitir a frase famosa, Armstrong quebrou-lhe o encanto.
Esse pensamento me fez ver com entusiasmo, na semana passada, o bilionário Jeff Bezos descer da nave com seus três companheiros. Tenho curiosidade pelas viagens espaciais. O que me atrai nelas não é me aproximar da Lua nem ficar mais próximo de Marte. É algo mais doméstico, porém não menos fascinante: contemplar a Terra “pelo lado de fora”. Observar do espaço o planeta onde sabemos que brotou a vida, essa misteriosa emanação da matéria bruta, e a partir daí a consciência. O planeta onde sofre, sonha e se agita esse curioso agrupamento chamado Humanidade.
O espação interplanetário nos fascina porque imaginamos que nele esteja a explicação dos enigmas que nos atormentam. Ante um mundo prático e pouco afeito aos mistérios do Além como este em que vivemos, pode estar lá a resposta para o que somos, de onde viemos, para onde vamos. Muitos acreditam que é impossível sermos os únicos a habitar o Cosmo infinito; deve haver civilizações semelhantes à nossa, com as quais poderíamos fazer contato para saber mais sobre nós.