O Zé Lins e o Zé Américo
Trocaram correspondências
Vasta documentação
São cartas, experiências
Dois amigos literatos
Que merecem reverências.
Raniery Abrantes
Raniery Abrantes
As mãos da sinceridade apontam para um alvo em comum e desenham um bem maior em direção à singularidade. Da mesma forma que a beleza bem se encontra e se expressa nos grandiosos e dadivosos olhares da simplicidade.
E foi isso que, mais uma vez, aprendemos e depreendemos, vislumbramos e nos deparamos, durante encontro da genialidade com a generosidade, entre dois dos mais reverenciados e cultuados escritores brasileiros, nascidos e criados em fértil solo paraibano: José Lins do Rego e José Américo de Almeida, autores de Menino de Engenho e de A Bagaceira, suas obras mais famosas.
Meninos de engenho, homens das letras. Encantado ambiente de aproximação entre o sentimento e a lavra, o pensamento e a palavra. Da pródiga inspiração com a extraordinária escrita. Do passado com o presente, do futuro com o exercício cotidiano. Não é todo santo dia que alcançamos tamanho privilégio.
Uma verdadeira aula de musicalidade e boa vontade, debate e leveza, largura e grandeza, descoberta e riqueza, gestos e delicadezas. De oratória e pertencimentos, história e alinhamentos, memória e conhecimentos. Tudo sublinhado e sublimado com os majestosos rios e caminhos trilhados por essas duas grandiosas vozes literárias.
A iniciar com incrível escolha da trilha sonora de abertura e a presidir as falas em novíssimos tempos de live. Em primeiro plano, veio por meio de imprescindível saudação dos gestores das duas casas de Zés, Fernando Moura e Pedro Santos, fundações que levam e elevam os nomes de Zé Américo e de Zé Lins, até à sonoridade mais próxima a abeirar-se aos nossos ávidos ouvidos.
Oportuna e importante convivência institucional a propor diálogo fluente e permanente, aberto e sincero, sem censura ou amarras, com a nítida intenção em discutir, preservar e valorizar a essência da nossa escrita paraibana. Cada uma à sua maneira de ser e ver, cada uma com a sua peculiar missão de vida, cada uma com suas estações voltadas à política cultural em nosso Estado.
Formidável parceria a firmar e a afirmar inúmeros e indispensáveis valores que regem e norteiam, fomentam e estimulam, engrandecem e educam. Apegos e sossegos, estímulos e estimas que só fazem enobrecer o conteúdo social de um povo soberano. Por fim, julgamentos e entendimentos que florescem e se identificam com os traços e signos do nosso tão iluminado chão nordestino.
Duas casas, dois horizontes. Um só pensamento, um só diapasão. Trilhando por uma só e única direção. Porque bate um coração com a mesma vontade de seguir por correntes de igualdade. Com a responsabilidade de quem sugere compromisso com o outro, com idêntica solidariedade de quem tem atenção e respeito aos imperiosos desejos e acenos do seu semelhante.
A encantadora fala da professora Janete Lins Rodriguez nos presenteia com memorável viagem assinalada e bordada com os fios da íntima e carinhosa troca de correspondência entre os dois autores, ao longo de suas existências. Por meio dela, testemunhamos profunda amizade solidificada com sinceridade, respeito e admiração. E vai mais além, quando percebemos inumerável registro de elogios proferidos e auferidos por ambas as partes.
O futebol é um dos temas escolhidos pelo jornalista e poeta Edônio Alves para reverenciar e enveredar pela obra do autor de Fogo Morto. A paixão pelo futebol e depois pelas cores e símbolos do Flamengo estão presentes na sua obra, quer seja nas leituras por ele observadas em Água-mãe e Eurídice, quer seja nas crônicas esportivas publicadas em jornais da época e que resultaram na edição da coletânea Flamengo com amor.
A arquiteta e curadora Valéria Veras, neta do escritor José Lins do Rego, também flamenguista de coração, nos sugere um ineditismo nordestino em referência a outras regiões do país. Nas palavras motivadas por seu pensamento, esse Brasil contemporâneo, urbano e rural, encontra no pulsar e nos traços de Zé Lins substratos da genealogia brasileira, pela qual se faz renascer, a um só tempo, em um mundo regionalista habitado de corpo e alma por histórias reais.
E tudo isso é finalizado com esplêndido recital concebido a quatro vozes, olhares e mãos. Os bardos Raniery Abrantes e Beto Cajá abrilhantaram o lugar e brindaram a todos com intensa performance literária, em torno da memória desses admiráveis Zés que a Paraíba tem, acarinha e preserva com extraordinário orgulho. “São dois Meninos de Engenho/Juntos em belo painel/O nosso José Américo/Pra quem tiro o meu chapéu/Também José Lins do Rego/Que decanto em meu cordel”. Nas belas quadras extraídas da verve inventiva do poeta Raniery Abrantes.
A desembaraçada e segura mediação do jornalista Jamarri Nogueira haveria de oferecer ponto alto ao acontecimento, advinda de sua natural familiaridade com o ambiente virtual, não bastasse essa reconhecida espontaneidade dedicada aos convidados e prevalecida por todo o curso das ideias e conversações.
Por trás das câmeras, cultivado elenco tracejara virtuoso cenário, ao mesmo tempo em que delineara tão merecido espetáculo. Nadígila Camilo e Tatiana Cavalcanti, cada qual a seu tempo, se esmeraram no esboço desse magnífico roteiro literário, na boa companhia de todos aqueles que acreditaram ser possível esse momento.