Estava a conversar pelo telefone com o amigo Wilson Marinho e ele me dá ciência de uma boa nova: seu neto foi promovido e vai trabalhar e viver em Belo Horizonte. Começamos então, com o sadio descompromisso das conversas fiadas, a comentar sobre as vantagens de BH sobre o Rio e São Paulo, metrópoles hoje difíceis de habitar, por tantas razões que sabemos. A capital mineira, ao contrário, soube crescer guardando um certo ar pacato de suas origens, o que lhe dá um encanto especial dentre as grandes cidades do país. Vai nisso, estou certo, muito da chamada mineirice dos habitantes das montanhas, sábios desde sempre e mestres na arte do bem viver, indiferentes às modas e novidades de outras plagas ditas cosmopolitas.
Mas logo logo passamos à triste constatação de que atualmente não tem nem rastro da grandeza mineira e de seus filhos ilustres, que tanta importância tiveram na história Brasil. Para citar só alguns mais conhecidos, fiquemos com
É verdade que ainda está lá uma Adélia Prado, por exemplo. Mas onde os outros? Onde os políticos importantes? Onde os escritores célebres? Parece que não há mais.
Drummond, no livro José, de 1942, e no poema de mesmo título, escreveu: “Com a chave na mão/quer abrir a porta,/não existe porta;/quer morrer no mar,/mas o mar secou;/quer ir para Minas,/Minas não há mais./José e agora?”. Para o poeta itabirano, já naquele tempo Minas não havia mais. Que diria ele agora? Conta-se que os conterrâneos de Drummond tinham uma certa mágoa por ele não ter mais voltado a Itabira do Mato Dentro depois que foi morar no Rio de Janeiro. Viam nessa aparente indiferença do poeta uma ingratidão para com a terra natal. Mas não era nada disso, como explicou o bardo mais de uma vez.
Pela mesma razão, o professor Marinho não volta mais a Sapé, dizia-me ele. Não há mais a cidade do menino que ele foi. Não há mais seus pais, seu avô, não há mais o trem que lhe trouxe notícias da guerra e tantos outros deslumbramentos infantis. Talvez, de todo aquele mundo, reste apenas a criança antiga dentro de si, porque esta ficará, como em todos nós, até enquanto houver o homem encanecido.
Mas voltando a Minas. Que desolação atual. Que cenário de terra devastada, do ponto de vista dos grandes valores humanos. Não, evidentemente, que não haja hoje gente valorosa nas Gerais. Há – e muita, certamente. Mas estou falando de nomes comparáveis aos citados, nomes que se impunham ao respeito do Brasil e do mundo. Não que fossem perfeitos, santos e puros esses notáveis de antigamente. Mas até nos defeitos, eles conseguiam repercutir na admiração dos contemporâneos. Com suas eventuais malícias e espertezas, não chegavam a ser execrados, mas, pelo contrário, entravam no folclore e nos “causos” locais, sendo motivo de muita risada inteligente até os nossos dias. Quem não se delicia com as estórias de Tancredo, de José Maria Alkmim e de Benedito Valadares, por exemplo, altos sacerdotes da mais fina política mineira e nacional?
Espírito de Minas, ressuscita!