Quando penso no matemático, teórico político e filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679 — viveu 91 anos!), sempre me ponho a imaginá-lo como um personagem de algum filme policial “noir”, um assassino frio e calculista. Seu pensamento mecanicista ao extremo me assombra até hoje, pela sua forma natural e, porque não dizer, cruel de enxergar a alma humana.
Tendo recebido influências de Francis Bacon e de Galileu Galilei, Hobbes desprezou e refutou a metafísica. Para ele, a filosofia seria a ciência dos corpos: os corpos naturais (a filosofia da natureza) e o corpo artificial ou Estado (a filosofia política). Como viveu em uma Europa bastante conturbada e permeada por conflitos, sua concepção acerca da natureza destrutiva do homem é carregada de tintas pessimistas.
As principais características do empirismo hobbesiano são o materialismo e o mecanicismo de suas teses, ou seja, não há espaço para o acaso e a liberdade, nem para o bem e o mal como valores universais. Ele buscava as causas primeiras e as propriedades das coisas. Sua concepção sufocante da realidade assevera que há uma disputa infindável entre os homens, um estado constante de guerra e de matança (observável nas comunidades primitivas, a título de exemplificação). Mesmo não concordando com algumas de suas ideias contundentes em demasia, não deixamos de nos fascinar pelo brilhantismo de suas teorias estrategicamente bem articuladas.
Seus principais conceitos e formulações estão expostos em sua obra máxima Leviatã. “O homem é o lobo do próprio homem” — homo homini lupus — é o que Hobbes nos quer dizer, reverberando a famosa frase de Plauto (254 a.C.-184 a.C.), dramaturgo romano, de sua peça Asinaria (Comédia dos Burros), um dos textos mais antigos do latim. Dentro de seus postulados de filosofia política, o Estado se assemelharia ao Leviatã da Bíblia (do “Livro de Jó”), um monstro que poria ordem no caos.
Portanto, os homens formam sociedades através de um “contrato social”, isto é, a teoria política hobbesiana preconiza que os homens só podem viver em paz se concordarem em submeter-se a um poder absoluto e centralizado. Isso caiu como uma luva sobre o expansionismo colonialista e ultramarino inglês. Seu pensamento ecoou, por muito tempo, na Inglaterra reformista, assumindo seu expoente máximo na França absolutista de Luís XIV.
A despeito de suas concepções políticas serem abomináveis para muitos leitores mais delicados, seu pensamento ainda mantém, até hoje, uma aura atraente e um poder de magnetismo imenso. Seja você de esquerda, do centro, de direita ou até mesmo apolítico, terá que ler, em algum momento da vida, algo sobre teoria hobbesiana. Hobbes é como Maquiavel: fundamental.