Com a direção de Wash Westmoreland, Collete (2018) é um filme sobre a vida da escritora francesa Sidonie Gabrielle Colette . Mais uma vez...

Colette e outras adoráveis mulheres

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Com a direção de Wash Westmoreland, Collete (2018) é um filme sobre a vida da escritora francesa Sidonie Gabrielle Colette. Mais uma vez, a luta incansável das mulheres que escreveram em silêncio ou escondidas nas sombras dos maridos, editores, ou ghost writers, até se fazerem ouvir.

Historicamente, as mulheres sempre escreveram. Mas não tinham acesso a publicar, ao respeito literário. Colette? mais uma mulher manipulada e quase condenada ao silêncio, não tivesse tomado consciência e atravessado o anonimato através de suas relações extraconjugais, epifanias com a natureza e a escrita sobre sua vida e o cotidiano.
Claudine sou eu! gritou ao marido manipulador e seu feitor maior. Ou quando lançou "Vagabunda". Por esse título, podemos imaginar suas reviravoltas e gritos de indignação. O Teatro de Pantomima foi seu escape maior. A arte de dizer com o corpo e em silêncio, transcendeu todas as palavras que não ousavam em ter o seu nome.

Muitas mulheres tiveram que morrer diante das encruzilhadas da criação, do casamento, e/ou maternidade, como a lendária e trágica personagem de The Yellow Wallpaper, de Charlotte Perking Gilman. Ou, ainda, a poeta americana Sylvia Plath, que definhou pessoal, artística e poeticamente frente ao abandono e traições implacáveis do marido e também poeta Ted Hughs. Ou até mesmo a mulher do maior poeta americano do século XX, T. S. Eliot, que morreu presa num asilo, retratada no filme Tom & Viv (1994 direção de Brian Gilbert). Muitas, vítimas de anonimato e silêncio, histeria e loucuras, representadas em tantos personagens por inúmeras escritoras mundo afora.

A atriz inglesa Keira Knightley está linda e exuberante dando vida a Colette, assim como fez em outros filmes igualmente belos que protagonizou, como Orgulho & Preconceito (2006, Joe Wright) e Desejo & Reparação (2008, Joe Wright). Colette me emocionou ainda mais. Utilizei um artigo de Sherry Dranch — Reading through the veiled text: Colette's "The Pure and the Impure” — na minha dissertação de Mestrado, em 1987, sobre o Silêncio Feminino na peça de John Osborne – Looking Back in Anger, artigo esse que, através de Colette, me abriu portas sobre o tema do silêncio feminino e a pureza e impureza dos textos. Verificando padrões de elipses e metáforas, e buscando o não dito, aventurei-me numa jornada de descobertas pessoais, inclusive.

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Colette me deu prumo ao iniciar o “subliminar estilo da carne e a obsessão proibida", um subtexto consistente no que claramente não era dito, inter-dito, proibido ou indicado pelas metáforas que constituíam, assim, uma matrix uniforme para o que aparentava ser uma série de histórias conectadas e imprecisas, ou seja, o puro e o impuro! Estabelecia o "Ouvir de outra maneira" (To Listen Otherwise) para se constituir um método.

Todo esse revival acadêmico me passou na cabeça ao assistir a este filme belo e ver essa mulher que demorou a entender sua escrita e seu poder. Escrevia para o marido sagaz e manipulador. Não assinava. Não ganhava os louros. E ele, um bonachão, beberrão e canastrão, a trancava no quarto para escrever. Até que um dia, ela ouviu da sua amante uma pergunta sobre esse estado de sombra e silêncio em que vivia. Foi o ponto do novelo que faltava, para que desenrolasse o seu despertar. E, assim como no conto de Marina Colasanti ("A Moça Tecelã”), saiu a des-criar e des-enrolar toda a sua vida.

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Em algum momento da vida, numa das cenas mais fortes desse awakening e awareness, quando a câmera foca no seu rosto raivoso e indignado, Colette grita: Basta! Suave e ferozmente, ela se defende e acusa o marido dos maltratos e mentiras. Por suas histórias caseiras ou públicas, ela escreve, explode com seu próprio nome e talento individual. Décadas depois, vem a falecer, justamente no ano em que eu nasci.

Tais assuntos, ditos femininos, serão referendados também em um outro filme: Little Women (1994, Gillian Armstrong). O personagem da atriz Winona Rider, a filha mais velha, também começa a escrever, e só faz sucesso
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quando tira do baú as memórias da sua vida de uma casa feminina, das histórias pessoais de amor, das irmãs, da mãe, do teatro doméstico, dos tempos de escassez, do frio e da rica vida das pequenas grandes mulheres. No Brasil, o filme recebeu o título Adoráveis Mulheres.

Em Colcha de Retalhos (1995, Jocelyn Moorhouse), a mesma Winona, enquanto enfrentava os dilemas do seu noivado e da sua própria dissertação de Mestrado, busca inspiração acadêmica e subjetiva na casa da mãe, da avó e tias, e lá encontra um arsenal de histórias não contadas, não ditas e silenciadas toda uma vida. As muitas epifanias dessas mulheres sábias e velhas compõem a sua própria virada de tema e de vislumbres sobre a sua vida futura.

Que maravilha o Movimento Feminista! A Crítica Feminista sobre Mulher & Literatura! que pode, ao longo de décadas, resgatar essas pioneiras da literatura produzida por mulheres. Todas as suas desenvolturas literárias e belezas! Suas construções de subjetividades! Inovações! Revelações! Mudanças emblemáticas para a vida e para a arte das mulheres no mundo!

Obrigada Colette! Sou tão grata a todas essas mulheres que me estimulam, me mostraram caminhos, me deram voz, me representam e fazem parte da minha vida, do que penso e sou.


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  1. Super parabéns Ana !!!
    Aplausos pelo texto/tema! ..
    Paulo Roberto Rocha

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