Meu corpo querido, meu amado, como te sou grata. És música, uma explosão de desejos e mistérios, meu templo e meu instrumento.
Sentada sob essa árvore tão antiga, penso em ti. O perfume das folhas entra pelas narinas, chega aos pulmões. Sigo sua trajetória. Notas musicais pousam nas minhas células, mantendo o fôlego da vida. Bach.
Ouço o meu coração. Regulares batidas a traduzir o ritmo da minha existência. Elas se juntam a um ruído leve, de água a cair sobre pedras. Ruídos de verão, asas de libélulas, o calor impregnado no som, meu sangue a navegar. Pizzicato líquido. Mahler.
Sentada sob essa árvore tão antiga, penso em ti. O perfume das folhas entra pelas narinas, chega aos pulmões. Sigo sua trajetória. Notas musicais pousam nas minhas células, mantendo o fôlego da vida. Bach.
Ouço o meu coração. Regulares batidas a traduzir o ritmo da minha existência. Elas se juntam a um ruído leve, de água a cair sobre pedras. Ruídos de verão, asas de libélulas, o calor impregnado no som, meu sangue a navegar. Pizzicato líquido. Mahler.
Poesia máxima.
És tanto, meu corpo. A tua perfeição não é a das convenções que os homens criaram. É o que me coube. E te tenho como presente, tesouro nascido nas estrelas. No longo tempo que aqui estou, caminhamos juntos por lugares extraordinários. Pisamos caminhos de floresta e de antigas catedrais, campos de alfazema e de espinhos; guardamos os mil azuis do mar imenso. Contigo senti a pele dos amados, os cabelos finos do meu pai, a textura do rosto de minha mãe. Rachmaninoff.
Juntos alimentamos filhos, estremecemos de dor e de prazer, dançamos descalços, piscamos sob a luz forte. Longo caminho de sentir, experimentar. Ordem, caos, silêncios, suspiros e lágrimas no escuro. Beethoven.
Por vezes houve dissonância. De tempestades, frustração e agonias construímos algo estranhamente poético, vivo e poderoso. Schönberg.
Haverá um tempo em que não soará mais a nossa canção. Quando será, não sei. Esta é a parte divertida. Todo dia pode ser o último – portanto, um aviso permanente para amar mais, não adiar o perdão, sorver o sumo da existência para se tornar bêbado de esperança e luz. Até o dia da partida, prometo cuidar de ti com a diligência das formigas e das abelhas. E nos despediremos ao som da gratidão pela jornada percorrida quando os mundos findarem. Chopin.