Há mais de 20 anos, quando vi na TV a notícia da morte de Linda McCartney, ela aparecia cavalgando com Paul ao som de uma de suas belíssimas canções. Lembrei-me de um dia, na primavera de 1987, quando estava na cidade de Bath, Inglaterra. Fui conhecer essa cidade linda e famosa por suas termas e arquitetura romana, quando li no jornal que Linda McCartney faria uma exposição de fotografias no dia seguinte. Aventurei-me a ir à galeria, para dar uma espiada de véspera...
Chegando lá, avistei uma limusine hollywoodiana preta, estacionada na porta, com dois guardas britânicos e meia dúzias de fãs com flores, na calçada. De pronto não entendi o que se passava. Quando me aproximei, o que vejo: Linda e Paul McCartney, saindo da galeria, cumprimentando as pessoas e convidando-as para entrar e dar a tal olhadinha de véspera. Fiquei em choque, em transe, em pânico! Estava eu ali, em frente a um Beatle! Não era o meu Beatle preferido, os meus eram John (Imagine) e George (My Sweet Lord), mas estar diante dele me dizendo hello, fiquei boba e deslumbrada perante um ídolo, daquele que achamos distante e inatingível.
Com minhas pernas bambas, ainda fui capaz de dizer hello, tirar uma foto tremida (na minha Cannon automática!) e dar pulinhos histéricos de felicidade pela oportunidade de me ver, frente a frente, não com uma celebridade qualquer, mas com toda uma experiência de fã daquele que representava um grupo de cabeludos que alucinaria toda a minha adolescência, cantando Help e A Hard Day´s Night no Cine Municipal; ou Let it Be a vida toda.
Passado o susto, entrei na galeria e tive o prazer de explorar foto por foto de Linda McCartney e seu grande e precioso acervo dos Beatles, dos bastidores dos shows, dos quatro com suas guitarras que gentilmente choraram por todos nós. Fiquei maravilhada com o que vi e principalmente com a coincidência de topar assim, ao léu, com Linda e Paul McCartney, tão banais e tão comuns, numa linda tarde primaveril. A felicidade até existe, pensei...
Ao ouvir o anúncio da morte de Linda, vítima de uma câncer de mama, chorei por ela, por mim e por todas as mulheres que vivem com esse medo constante e aterrorizador de se deparar com um caroçinho no meio do caminho. No meu pensamento, surgiram nomes como Ana Laura Caldas, Eliane Babá, e tantas outras amigas, umas mais próximas, outras nem tanto, mas mulheres da minha geração e que se foram tão jovens. Com elas, com certeza, também vai um pouco de quem fica e temos a nítida consciência de que as notícias de morte não estão somente no Jornal Nacional. A morte anunciada chegou no quintal de casa. E a música Tomorrow, do Wings, que me apontava um futuro tão distante, hoje vejo que foi ontem!
Hoje, ainda estou a ouvir My Valentine, música de Paul, interpretada numa homenagem belíssima aos seus pais, e me lembrando das maratonas em que pude cantar todas as músicas que me embalaram os sonhos dos anos 60, 70, 80 e continuam...
Na época, cheguei a advertir: se encontrarem nos gramados do Arruda, em Recife, com uma fã, um tanto assim, animada, não estranhem, pois estarei rouca de cantar Olê Olá, de Chico Buarque na véspera, e em outro êxtase tardio, Bands on the Run!