MANUAL DE QUESTÕES ELEMENTARES
SOBRE ENGENHARIA DOMÉSTICA
O que de perene resta
da rupestre arte de equivocar-se?
Seria flagelo o silêncio
ou equívoco de enganar-se?
Morre-se por tentar
ou ignora-se para salvar?
Pode ser a morada mórbida
como um claustro?
Abrir a porta — metáfora
ou ato de desespero?
Seria a paixão fonte
de saudade e motivo de erro?
O mínimo é indispensável
ou vale mais o exagero?
O que se atira para fora
é sobra ou esperança?
Na sanha dos corpos
escreve-se uma aliança?
Luz apagada
desperta quem sonha?
Os cabelos resgatam
ou seriam amarras do desejo?
Romper a fronteira da paz
ou blefar com um beijo?
Rotina é fastio
ou receio?
Existe roteiro que se persiga
que afaste a briga?
O remorso do hoje
desfaz a bruma de ontem?
Cavam-se trincheiras e
planta-se a vingança?
O nó desata no
mar de lama?
Cabe manual em meio
aos lençóis na cama?
MANUAL DA NOBRE ARTE
DO DESENCANTO
Há prazer nas escaras do desencantado? Sentimento de mártir: cravar estacas e chamá-las : realidade.
Há prazer nas escaras do desencantado? Sentimento de mártir: cravar estacas e chamá-las : realidade.
MANUAL DA “PETITE MORT”
COMO REFÚGIO
A morte se dissociava de meus desejos, o conforto era de uma sutileza retinta. Minhas costas arranhavam suas mãos e davam título à jornada da vida. Outro lugar em qualquer tarde era a luz e o encontro com seus dentes. Das vezes em que ensaiei vibrar suas coxas errei o caminho, me desencontrei. Fui precoce nos atalhos, não descansei em suas cicatrizes. Me desgarrei, apenas me choquei em seu dorso. (Os nomes que gritamos disfarçam nossa estupidez.) Rumo – cabresto da soberba no torvelinho das curvas. Melhor perder-se no acaso da embriaguez, Ato de rebeldia, no Templo de nós dois. Leito de sangue, essa tinta e seus nomes nos lençóis esquecidos. Beber nos seus seios o que encontrasse, pornografia de iludidos, saliva e sonolência no minúsculo espaço das raízes emaranhadas de nossos corpos.
A morte se dissociava de meus desejos, o conforto era de uma sutileza retinta. Minhas costas arranhavam suas mãos e davam título à jornada da vida. Outro lugar em qualquer tarde era a luz e o encontro com seus dentes. Das vezes em que ensaiei vibrar suas coxas errei o caminho, me desencontrei. Fui precoce nos atalhos, não descansei em suas cicatrizes. Me desgarrei, apenas me choquei em seu dorso. (Os nomes que gritamos disfarçam nossa estupidez.) Rumo – cabresto da soberba no torvelinho das curvas. Melhor perder-se no acaso da embriaguez, Ato de rebeldia, no Templo de nós dois. Leito de sangue, essa tinta e seus nomes nos lençóis esquecidos. Beber nos seus seios o que encontrasse, pornografia de iludidos, saliva e sonolência no minúsculo espaço das raízes emaranhadas de nossos corpos.
Poemas do livro Manual para Estilhaçar Vidraças ■ Jorge Elias Neto
Editora Cousa, 2021
"Jorge Elias revela o obscuro e o colorido do ser humano, transportando o leitor para além de si mesmo. Para que isso aconteça, o autor opera com vários recursos: aliterações, rimas cruzadas, polifonia, cortes abruptos, interrupções e, principalmente, condensações". Disponível em cousa.minestore.com.br
"Jorge Elias revela o obscuro e o colorido do ser humano, transportando o leitor para além de si mesmo. Para que isso aconteça, o autor opera com vários recursos: aliterações, rimas cruzadas, polifonia, cortes abruptos, interrupções e, principalmente, condensações". Disponível em cousa.minestore.com.br