Na ladeira de São Francisco se postava um homem fardado. Chegava, ao moribundo sol. As casinholas agarradas, dependendo da luz da usina de energia elétrica da Ilha do Bispo, eram fechadas cedo da noite. A luz expelida pela central da Ilha do Bispo era fraca: a claridade pouco mais do que a de candeeiro. Havia moradores que socorriam a queda da iluminação elétrica por lamparinas sobre as mesas ou penduradas nas paredes.
Pisando os paralelepípedos desiguais, desciam bêbados ou frequentadores de prostíbulos, preferindo o leito desalinhado às calçadas habitadas por ratos ou mesmo lacraias: notívagos, que deixavam as locas e tocas para fazerem a festa.
O guarda os observava, lá do alto, recostado na porta da Casa da Pólvora. Pelas tantas, nem tão tarde, alunas do Colégio das Neves passavam, o cumprimentavam seguras de que nunca algum ladrão teria a ousadia em perturbá-las. O guarda com rápido gesto correspondia, ficava de olho até que entrassem nas respectivas casas.
O guarda noturno deixava o posto na madrugada anunciada, descia a ladeira ou ia para os lados do monumento do crucifixo rodeado de pelicanos, hoje com as cabeças decepadas pelo tempo. Ficava ele na praça dedicada ao pobrezinho de Assis. O apito rasgava até p amanhecer, afugentando larápios ou maus caráteres.
Manhã feita, o sol ainda fosco, cumprida a tarefa, o guarda ia tomar café numa das casas da ladeira de São Francisco. Bondoso homem, Amâncio lhe oferecia um desjejum frugal, mas a peito grande. Conversavam sobre política. Eram de partidos diferentes, mas levavam na camaradagem e até na brincadeira as querelas domésticas. Foi assim, quase um ano.
Numa das noites o guarda faltou ao serviço, o que não era de seu alvitre. Nunca mais voltou. Nem a filha de seu Amâncio que dissera ao pai ir dormir com uma colega. Estudos para a prova final.
Casaram, cumprindo os rituais previstos, no padre e no juiz. Ela ia no quarto mês de gestação...