A página aberta num branco em formato ofício que já não é mais palpável como em tempos idos, assim como a caneta que rabiscaria palavras desconexas conectadas ao interior do ser. Em breve, apenas uma bolinha amassada de confissões desimportantes para o mundo, onde diálogos imaginados e nunca realizáveis eram montados, palavra a palavra, peça a peça, quebra-cabeça da própria mente.
Nem seriam como os pequenos diários ginasiais do início da adolescência e que acabam guardados em baús de memórias como super segredos que anos depois se tornam ingênuos, bobos. Eram mais fragmentos que soltavam pela ponta do lápis para serem logo desprezados. Eram falas cuspidas aleatoriamente, construídas como fumaça de pensamentos para serem dispersas rapidamente, eram escritos perdidos.
E no branco do papel, o ser assumiria cores em falas silenciosas da alma por um instante a transformar uma folha do caderno em confessionário, a tomar o auto perdão de pecado por algo nem feito, no máximo, imaginado rapidamente. Indulgências!? Apenas um salto para o próximo pensamento ainda inocente, mesmo que indecente.
Era começar a escrita sem ideia de quantos tropeços seriam necessários para transpor as próprias fronteiras. Quantos sorrisos, gestos, toques, cheiros empunhariam possibilidades disparadas pela mente. Fantasiar cores, cenários, diálogos, aglutinações de coisas e pessoas. E, logo em seguida, dispersar, disparar afastamentos, anuviar o que nem era concreto. Novamente, papel amassado... em breve, nova ordem, apagar, deletar e, por fim, algo parecido, lixeira.
E gira o ser perdido na dualidade de existir-se em um só pelo mês de junho. A suspirar com a chuva, a tocar pingos, a flutuar pelas calçadas ensopadas do inverno do quase inverno. E ainda sentir o sangue quente, a silhueta a afastar-se, as pegadas na terra feita por pés sempre descalços como a querer deixar digitais plantadas pelo caminho. E aproximar-se à carne, à pele, à essência, ser pleno.