A vida tem me feito refletir, pensar, sentir, lembrar.
Voltando no tempo, lembro-me do café da manhã de 27 de janeiro de 1996 aqui na Pitumirim
Pessoas correndo de um lado pro outro, espelhos pendurados nos diferentes cômodos da casa, crianças de todos os tamanhos correndo agitadas, enfeitadas, canecas de café com leite em meio aos pedaços de tule que sobraram dos enfeites, fitas, panos. Uns comendo, outros se penteando, se vestindo, uma mistura de cheiros na ar.
Estes foram as imagens da manhã do nosso casamento - Eu e Nanego, Ricardo (meu irmão) e Rô casamos juntos naquele dia. Subimos a ladeira em direção a Igreja matriz do Conde, onde amigos e familiares nos esperavam animados.
A igreja toda enfeitada com flores de papel crepom bem coloridas que coloriam também o arco colocado na entrada da igreja por onde meu pai passou radiante com as duas noivas. Ele estava mais forte e feliz que qualquer pai!
A igreja estava entupida de gente e do lado de fora os alto-falantes pregados nos postes que costumeiramente levavam a missa ao povo, diziam à cidade o que ali estava acontecendo.
Tudo era uma mistura de brincadeira, teatro e verdade que mobilizou, desde muitos dias antes, as pessoas a participarem e doarem o seu melhor para este momento.
As roupas, os enfeites (mais de mil flores de papel crepom), a orquestra, os chapéus das mulheres, a alegria solta no ar, formavam um cenário de luz, cor e beleza. Depois da cerimônia foi a festa na granja, um dia de sol e céu claro, mesas e cadeiras espalhadas na grama, debaixo das árvores, acrescentaram à Pitumirim mais uma história entre tantas outras de igual importância e beleza.
Foram vários casamentos, batizados, festas de São João plantados nessa terra!
Naquela manhã de festa vendemos pedaços da gravata de Nanego estimulados por Jairinha, minha irmã que dizia ser esse um hábito nos casamentos de Campinas/SP, onde morava. Esse brincadeira nos trouxe um bom apurado e assim, após a festa, partimos para a lua-de-mel que não havíamos planejado por falta de grana, surfando na onda de alegria que fez parte de cada momento desde quando decidimos nos casar. Seguimos os quatro juntos para Pipa.
Dali pra frente, nós quatro, vivemos como tinha que ser - cada qual com sua dupla e cada dupla com suas experiências em seus lugares - nós aqui e meu irmão e minha cunhada em Vitória/ES onde já moravam e criavam seus dois filhos.
Eu não imaginava o futuro enquanto vivia esse momento que recordo com igual entusiasmo até hoje - nunca fui muito de me dedicar ao futuro. Meu presente é sempre exigente demais da minha atenção para planejar detalhadamente os caminhos seguintes.
Não imaginava o futuro, mas hoje olhando para o passado que me proporcionou tudo isso, vejo que as luzes do sol, as flores de papel colorido e o verde da granja, a energia das pessoas e a alegria daquele momento, foram como um decreto internamente formulado com força capaz de determinar as experiências vividas de lá pra cá.
Mesmo as experiências mais difíceis, como a morte de Rô, minha cunhada, anos depois, se mantiveram guardadas em verdade, luz, cor, harmonia e beleza. O pacto de união que fizemos perante todos que abençoaram aquele momento, tem se revelado de muitas formas até aqui.
Hoje me mobiliza o fato de me sentir feliz. Firmando a parceria, a cumplicidade, o amor. Atenta à existência e à importância dos momentos vazios, dos momentos de distanciamentos e estranhezas, dos momentos de paixão, preenchimento e graça, como parte de uma escolha que renovo a cada dia e que a cada dia revela um pouco mais de mim mesma.
Como naquele dia, continuo sem saber o futuro. Igualmente me entrego ao chamado do presente, cada vez mais exigente de meu foco, de minha atenção. Me pego evocando aquela luz, aquele sol, o azul daquele céu,a imagem do vento nos tules pendurados pelos caminhos, o colorido do papel das flores de crepom feitas por tantas mãos amorosas, evoco a energia daquelas pessoas queridas, do meu próprio contentamento e entusiasmo.
Reafirmo com frequência o decreto que revela a intenção de ser feliz hoje, como tenho sido todos esses anos aprendendo a criar união.
Coisa boa é a memória de um tempo que ainda é presente!