Encontrou, na saída do cinema, uma carteirinha feminina. Lembrou-se de haver namorado, em fantasia, Romy (a Sissi). Quem seria a dona? Que faria? Procurou número de celular, em vão. Remexeu cada documento, minucioso em sua busca, pensou em jogar fora a carteirinha, mas desistiu. Afinal de contas, se tratava de algo nada vulgar: foi à lotérica, pensando encontrar alguém que lhe desse alguma pista, todas as alternativas seriam válidas. No mínimo, reencontrar Romy (um sonho), mesmo sabendo que a carteira não era pertença da atriz bela e charmosa. Desguarnecida de qualquer moeda, lisa, a carteira incomodava.
Foi para casa, esmiuçou com faro de detetive, escancarou todas as dobras da carteirinha, pensou em guardá-la como souvenir. Chegou a comparar a antiga conservada desde a adolescência, na qual havia colado a foto de Sissi, com a encontrada; vasculhou todas as hipóteses. Sonhou acordado, rememorou a moça proprietária aflita, chorosa, imaginou que a desconhecida havia se estatelado em pranto (a carteira era de couro de lei, tinha um coelho fofo e as iniciais de quem a perdeu). Guardou-a, simplesmente por afeto indeterminado. Quem sabe, Sissi a houvera perdido? Tudo pode acontecer na imaginação do fã, ao sair de um filme. Um amor platônico em flashback. Na realidade, Romy Schneider jamais o aceitaria como namorado.
Procurou entre a pilha desarrumada dos devedês a série ”Sissi”, “Sissi, a Imperatriz” e “Sissi e Seu Destino”. Encontrou, afinal. Colocou o disquete no prato e se deitou esperançoso. A imagem fugiu por ser antiga, o disquete arranhado. Ele apagou num sono inquieto. Sonhou com a namorada de seus sonhos; adolescente se encantara com a beleza exuberante de quem jamais poderia viver uma história, na vida real. Nem fazê-lo bonito ou príncipe…
Valeu, porém, haver encontrado a carteirinha feminina. A imaginação tem asas e o levou ao passado distante. Estava feliz. Avultava a lembrança de quem se apagara. Como no filme. Há quanto tempo!