Alguma coisa chamada cor
Quem cismou de pintar de rosa as nuvens
pôr de sol do outono?
E ver o azul se disfarçando em cinzas
na crepuscular despedida do que já foi manhã.
(Por isso a embriaguez silenciosa da menina de seis olhares.)
Mas no breu recortado da despedida, soavam
os sinos,
e no trono dos pesadelos, passaram a ressonar
os anjos.
(Cada noite guarda verdades esquecidas.)
E os despojos, quietos,
aguardavam o suspiro úmido do orvalho
no gargalo do impiedoso Sol. Diálogo entre poetas
Para José Augusto Carva
Será acaso Dante este estampido,
estreia derradeira de um sonho,
derramado nos campos, perseguido,
aquém dos portais do divino antanho?
E agora, José, se nem mesmo a valsa
de um azul Danúbio — já assaz retinto —
reafirma os laços, nos salões e praças,
onde sombras passam de olhar soturno?
Se o Inferno à Terra já não tras sentido,
e a surpresa empresta o poder ao tédio,
resta à indiferença polvilhar o olvido.
A pedra que brilha ofuscou o concreto,
e a palavra Má-qui-na perdeu fascínio.
Sair de Minas, do Mundo, assim, perdido? Prefiro os loucos
Para Italo Campos
Triste o fim dos que se destroem
por arcabouços de verdade,
e se recusando amizade
usam atropelo em sua verve.
O tom de um sofista, este açoite,
diz de uma procela de moucos;
faz ventar os cabelos poucos
da Musa rara... Ah eterna noite!
Saber da espera? Só os loucos
de versos claros, harmoniosos,
que mesmo imberbes, assim roucos,
respingam manhãs luminosas,
reviram a lama dos poços,
semeiam no nada as rosas. Um resto de sol no desalento
Ocupo-me de uma febre sem propósito. Modos existem de forjar os dias, principiar universos, rir do descomunal segredo da vida ... Mas não nessa noite gelada em que persisto centelha. Eis a última pele — a palavra que se desgarra inapta a prosseguir afirmando o esplendor da verdade.
Ocupo-me de uma febre sem propósito. Modos existem de forjar os dias, principiar universos, rir do descomunal segredo da vida ... Mas não nessa noite gelada em que persisto centelha. Eis a última pele — a palavra que se desgarra inapta a prosseguir afirmando o esplendor da verdade.
Sempre fui um admirador dos poemas curtos, dos aforismos e epigramas. Sei que o nada, a convivência com o absurdo, o simples prazer e o deslumbramento são tudo o que se persegue no poema. Mas muito me atrai "brincar" com as ideias. Daí minha admiração por Nietzsche, José Paulo Paes, Fernando Pessoa, Antonio Porchia, Leminski e outros mais.
Rente ao chão,
toda mentira resvala na
inutilidade
As cores amanhecerão diferentes
na tarde de tua lucidez.
Perdi meus tempos de insônia
fiando futuros improváveis.
Pode existir alguém mais fiel
que um inimigo?
O que fazer
com instantes
que insistem em chegar
dissipando ilusões?
A esperança
é uma simples questão de sobrevivência