Existem as pessoas que não sabem arrumar o quarto, existem as que não organizam os horários e existem as que não conseguem engavetar, organizar ou empilhar sentimentos.
Estes geralmente são avessos a ordens, normas e protocolos. Vagam contemplando coisas que quase ninguém vê. Enxergam uma “flor no lixo”, ou “que o fim da tarde é lilás”, ou “o avesso do avesso do avesso”.
Chamados de poetas, eles estão entre nós. São vistos contemplativos em meio ao caos do meio-dia. Outras vezes vagueiam nas madrugadas de lua cheia acompanhados de palavras escolhidas.
O poeta não é um engenheiro calculista, para quem cada lugar tem sua coisa. (Exceto os parnasianos). Não, poeta é curvo, rústico, solto, chegado a uma gambiarra.
Constrói obras caóticas, imprecisas e belas. Não combina com piso de porcelanato polido.
Não, o chão do poeta é de terra pisada, impregnado de boas histórias e sentimentos que vão ficando pela estrada: saudades deixadas no ipê rosa da praça, tristezas nas velhas ruas do centro, compaixão, alegria, dores e amores genuínos que são espalhados a esmo.
Poetas constroem textos tortos para gente intensa e observadora, gente que acaricia cachorro de rua, que enxerga nascer de sol e formigas carregando folhas.
E também aqueles que dançam na chuva, que abraçam árvores e lembram das histórias do avô.
São para esses que os poetas constroem suas casas.