Quem diria, acredite, uma flor gostar da Lua. Passa o dia adormecida e à tardinha, com preguiça, calmamente se desnuda aos encantos da aurora.
Quem sabe a sua tez, delicada como é, se ressinta do clarão que lhe faz o Sol a pino. Tão distinta de outras flores que da luz se alimentam logo que o céu prepara o cortejo da alvorada…
Foi assim que as avistamos num canteiro da Toscana, à margem de uma ladeira lá de San Gimignano. Na noite em que chegamos, o hotel nos informou que cedinho era preciso remover o nosso carro da rua em que o deixamos. A princípio o que podia ser um desgosto matinal, logo cedo se desfez ao cenário vislumbrado na viela amanhecida.
Ah Itália eternizada… Botticelli, Michelângelo, Leonardo, Alighieri, Boccherini, Donizetti, incontáveis te contaram nas letras e nas artes, na música e na poesia. Jamais foste esgotada na beleza impregnada ao longo da história.
Ao vê-las radiantes, tão miúdas no canteiro, era mesmo impossível prosseguir indiferentes. Pouco mais se fechariam e talvez nem as teríamos encontrado caso o Sol se erguesse antes de nós.
Da murada empedrecida se avistavam as montanhas quase ainda adormecidas. A manhã irradiava o contorno enevoado fazendo ressurgir na penumbra que partia um cenário inesquecível.
Desejando eternizar o instante inebriante antes que a claridade espantasse aquelas flores, fomos vê-las mais de perto. Foi então que percebemos a oferta que faziam nas sementes exibidas por volta do canteiro.
Dos bolsos do casaco e depois de guarnecidas na bagagem de retorno, floresceram aqui do lado, bem distantes e tão próximas da poesia da Toscana...