Certa vez percorri o Rio Gramame, a barco, realizando desejo desde quando aqui cheguei, em meados de 1971.
Conhecer os arredores deste rio, penetrar na profundidade mítica do manguezal, até certo ponto acalentador, era minha vontade. Foi um passeio inesquecível e de recordações porque, conhecendo-o de passagem, agora eram suas águas que me transportavam lentamente, enquanto observava sua paisagem. Um lenitivo para a alma.
Conhecer os arredores deste rio, penetrar na profundidade mítica do manguezal, até certo ponto acalentador, era minha vontade. Foi um passeio inesquecível e de recordações porque, conhecendo-o de passagem, agora eram suas águas que me transportavam lentamente, enquanto observava sua paisagem. Um lenitivo para a alma.
Sempre desejei possuir um rio. Um rio grande, mas não tão grande que pudesse domar e andar na sua margem. Os rios de minha infância eram todos silenciosos e estreitos, que atravessávamos sem arregaçar as calças nem com o auxílio de canoa ou toros de madeira para chegar à outra margem.
Para conhecer por dentro o Rio Gramame, fui arrebanhado por amigos que, conhecendo meu apego pelas paisagens rurais, pelos rios e pela poesia que exalam de recantos da Natureza, levaram-me a participar de um passeio por este rio.
Enquanto a canoa seguia lentamente o curso da água, a brisa fresca da manhã anunciava a Primavera que transportou-nos para as paisagens calmas e exóticas do lugar, a poesia superabundando das curvas e das bordas do rio para os altos pilares da alma. Dava-me vontade de abraçar quem estava do meu lado, que com os olhos luminosos captava aquela manifestação de beleza.
Observando as plantas aquáticas flutuando, os aguapés roxos e as samambaias do mangue que nossas mãos acariciavam, lembrei dos rios de minha terra. O Rio Araçagi-mirim e o Rio Jacaré que hoje compõem a paisagem da minha infância.
Os mangues vermelhos e brancos do Rio Gramame destacando-se entre os pés de algodoeiro da praia, lembravam as quatro Estações de Vivaldi.
As pessoas estavam felizes ao redor. Uma felicidade não apenas por percorrer um rio que ainda respira, mas porque tínhamos consciência de que ainda é possível manter sadio este rio, mesmo que respire agonizante.
O Gramame foi um rio que entrou na minha vida, assim como entraram o riozinho Jacaré, em Serraria, no lugar onde nasci, e o Araçagi-Mirim, em Arara, que tentas vezes eu contemplei nas tardes quando a alma buscava repouso.