Com aqueles olhos de forte claridade, Otávio Sitônio Pinto já havia chegado ao meu terraço com esta conversa: quem deu nome ao Brasil foi o pau da Paraíba. O nome brasil saiu daqui.
- Onde você viu isto, homem?
Ele não lembrou ou não quis dizer, mas aquilo ficou fermentando minha cerveja.Otávio, além de minerador de leituras é bom de intuição.
Pois não foi ele, Otávio Sitônio, quem descobriu por escrito que “aqui o sol chega primeiro.”? Beaurepaire Rohan, o autor da primeira corografia da Paraíba (1859), não despertado para essa vantagem promocional do nosso avanço geográfico em demanda do turismo. Grande benfeitor, ele não era paraibano. Amava a Paraíba como amava os brasis de suas missões mais que administrativas, educadoras.
Eu estava de cabeça baixa em qualquer leitura, numa manhã antiga de A União, quando Otávio entra espavorido, vestes de motoqueiro e olhar de quem chega encandeado. O texto vinha à mão pronto para ser aplicado numa peça de chamamento turístico: “Paraíba, onde o sol chega primeiro”. O avanço continental do Cabo Branco a apanhar o sol primeiro que qualquer outro extremo do continente.
Na prática, no terra a terra, talvez não pudesse render muita coisa, mas onde está a alma da propaganda? Nesse ilusionismo mercantilista.
Acordando diariamente a esfregar a miopia na aurora do Cabo Branco, José Américo não tinha se advertido disto. Chega Otávio, ares de Vespúcio, e me larga a descoberta no birô. Eu não era da publicidade, mas torcia por uma encaçapada dessas.
Dessa nova vez a boutade é no meu terraço. Isto há trinta anos: “ Quem deu nome ao Brasil foi o pau de tinta da Paraíba”.
- De onde você tirou essa? / - Não me lembro agora , mas existe qualquer coisa nesse sentido. É coisa de frade, pensei. Abro o Sumário das Armadas e lá reencontro a mina de Otávio. Reza o texto seiscentista : “Das outras capitanias o páo não dá mais que duas tintas (...) o páo desta capitania da Parahyba é a mercadoria mais de lei que de todas as outras, por não padecer corrupção de tempo e de água.” E fecha: “O páo desta capitania é o mais e melhor que se sabe; e por ser a derradeira deste estado deu nome a toda a província”. Ou seja, e por ser a última a aparecer aos olhos dos conquistadores e traficantes (do Rio Grande para cima era só capoeira) deu lugar a que os brasis das nossas matas fechadas, o mais e o melhor de todos, desse nome a toda a província do Brasil. Tem sentido.