Para equilibrar, já que escrevi sobre os “pequenos sofrimentos do cotidiano”, vai um texto sobre os pequenos prazeres do cotidiano.
“Trem bão” é cama esticadinha, travesseiro confortável, colchão adaptado ao corpo e um sono profundo.
Acordar cedo, ver o amanhecer, prestar atenção na suave metamorfose do dia e perceber que faz parte desse presente.
Colocar água pra ferver, fazer o café e levar na cama para ela, ou vice versa. É um pequeno prazer para ambos e pode despertar outros.
Toalha felpuda, ir ao dentista e não ter cárie, receber massagem caprichada sem pedir, cachorro pulando de alegria, cravo “bitelo” que sai inteiro, time ganhando, nome na lista dos aprovados, rapa de arroz da mãe, manga Ubá, ter alguém pra ouvir segredo e ficar sozinho com quem ama.
Óculos limpinho é uma delícia, melhor ainda é nem precisar de óculos. E por falar em enxergar bem, prazer dos bons é ver feliz quem a gente ama. Filhos sorrindo, ser chamado de pai e ser refúgio de pesadelos.
Os defensores de banho frio me perdoem, mas banho quente é bom com força, ainda mais se for no mês de junho em Caratinga.
Esse próximo é controverso, mas só testando pra saber. A receita é a seguinte: comece uma longa caminhada, quando você chegar “ali”, perto do 18º quilômetro, as pernas que já estão no automático desde o 5º, param de doer e alguma coisa acontece. A gente sente uma alegria, um prazer, uma exaustão agradável, tipo de uma vitória ou conquista, não sei se é o corpo “entregando os pontos” e dizendo que desiste de alertar que não vai funcionar amanhã, ou se é a enxurrada de endorfina liberada fazendo efeito.
Permitam-se sentir os pequenos prazeres do cotidiano, cada pessoa tem os seus. Eu adoro jogar a parte de cima da casca da laranja rodando como se fosse um disco. E também: música boa, roda de violão, escrever “levezas”, rir das minhas mancadas, jogar futebol e a água do Atlântico.