Todos nós temos a ideia falsa de que pessoas inteligentes são sensatas. Nem sempre. Aliás, estamos vivenciando um tempo em que aumenta cada vez mais o número de indivíduos apontados como de bom nível de inteligência se comportando fora do que possa ser considerado atitude de bom senso. O que tem concorrido para que isso esteja acontecendo? Motivados por causas abraçadas de maneira apaixonada, abrem mão da própria racionalidade, perdendo a capacidade de discernimento.
Chegamos ao entendimento de que a inteligência não é necessariamente condição para que alguém seja sensato. Na convivência social encontramos muita gente que se acha inteligente e age com surpreendente desorientação racional. Encontra dificuldade em perceber o que é certo e o que é errado, o que é falso e o que é verdadeiro, o que é bom e o que é ruim. Incrivelmente passa a integrar o grupo dos “sem noção”, porque decide assumir a defesa de “pontos de vista” que fogem ao lógico, ao coerente. Tem, inclusive, quem, mesmo considerado inteligente, contraria o que nos ensina a ciência.
Esses indivíduos fecham os olhos e se tornam impermeáveis à compreensão advinda das experiências, influenciados por interesses que lhes são momentaneamente convenientes. E não se envergonham em empunhar bandeiras que comprometem o conceito de inteligência que buscam apresentar. Seguem na marcha da insensatez pensando exclusivamente em si próprios, desprezando princípios que deveriam ser inflexíveis, como a ética, a moral, a verdade, a honestidade da consciência.
A insensatez é incompatível com a inteligência humana. Na seara política essa incompatibilidade se evidencia escancaradamente. São gritantes as manifestações de auto-engano, em prejuízo do equilíbrio racional, privilegiando informações que fortalecem crenças previamente estabelecidas. Surgem daí convicções seletivas, ainda que distantes da realidade facilmente perceptiva. É a recusa em aceitar o óbvio que não seja útil aos seus objetivos.
O problema é que muitos confundem conhecimento intelectual com inteligência. A intolerância, por exemplo, é uma manifestação de desinteligência que muitos dos que se afirmam cultos praticam. Não basta ter sabedoria, é preciso saber usá-la. Há uma frase budista que acho bastante interessante para essa reflexão: “Os insensatos, que acreditam serem sábios, são inimigos de si mesmos; fazem más ações, das quais, por fim, só colhem frutos amargos”. Manter-se vítima da própria mentira, é a maior prova de que a insensatez não se harmoniza com o conceito de inteligência.