A efemeridade e a eternidade da vida em pingos. Na porção unitária acumulada em pontas de folhas, em beiral de tetos, na frieza de ferros de portões. Sim, aquela gota d´água que desce do céu, escorrega feito criança bricante pelos galhos das plantas, pelas rochas, pela pele dos animais de todas as espécies.E brilha feito joia em contraluz, espelha o cenário ao redor, triunfa no seu momento de maior grandeza.
E logo ali eis o instante quase tangível em que cairá até encontrar-se à terra, ao concreto, para continuar a ser parte do molhado. Porém, antes disso, há de ser especial e compor um número de mudança de clima junto a dezenas, centenas, milhares de outros pingos.
Ser pingo é ser rio, ser todo e ser único, ser mar de pessoas, individual e coletivo, seja em dia de chuva, em estio de tréguas ofertadas pelos céus depois de se desfazer no aguaceiro. Pingar em terreno baldio, em cidades inteiras, em descampados pelos campos.
O inverno se aproxima, manda pingos avisarem da sua chegada. Sem tristeza, são festeiros os pingos no Sertão, no Semiárido. Eles são os sinais da estação que se encaminha, antes de inverno, invernada. E as gotículas que se equilibram ao descerem à terra são os sinais do próximo ciclo.
Ser pingo é entender-se suficiente para matar a sede, mas saber-se parte necessária para vencê-la. É avisar à boca que a água pode estar em outra boca, pote de pingos de desejo, sonhos, risos, nasceres e pores do Sol, luas cheia, mergulhos em rios, banhos de mar... de chuva.