Quando do último grande embate na faixa de Gaza, era o ano de 2009, escrevi os primeiros 3 poemas abaixo e inclui, de última hora, no meu livro “Rascunhos do absurdo”.
Outros momentos críticos ocorreram, e escrevi mais alguns poemas motivado pela crise humanitária na terra de origem de minha família.
Hoje, uma nova crise se instala na região. Muito triste ver o extremismo se instalando, novamente com força, no Mundo.
Escrevi o último poema, agora com uma mensagem de esperança. Compartilho com os amigos deste espaço literário dedicado à palavra.
A praça
Estaria reservado no escaninho dos deuses tão impensada tormenta? Movimento primevo: revoada dos pombos. Quebrado o instante, brancas penas restaram na praça. Crianças absortas, festejando o dia, imaginaram dragões e fadas. Anciões se entreolharam e cismaram do céu... Ato contínuo: zunido, estrondo, perplexidade. Malfadado encontro: pó e silêncio. Os primeiros gritos, embotados pela poeira do subentendido. O som antecipou a imagem suspeitada. Fez-se a desolação nos rostos que se ergueram. Os primeiros gestos, lentos, não acompanharam o frenesi do pensamento. Desespero. – Como é possível minar tanta água desses rostos de areia? Coube ao acaso a seleção dos fortes (que recolheram os corpos). Ao poema, cabe despejar sobre o chão, e na cara dos facínoras, uma resma de dúvidas. De algum ponto, cabe o recomeço.
Estaria reservado no escaninho dos deuses tão impensada tormenta? Movimento primevo: revoada dos pombos. Quebrado o instante, brancas penas restaram na praça. Crianças absortas, festejando o dia, imaginaram dragões e fadas. Anciões se entreolharam e cismaram do céu... Ato contínuo: zunido, estrondo, perplexidade. Malfadado encontro: pó e silêncio. Os primeiros gritos, embotados pela poeira do subentendido. O som antecipou a imagem suspeitada. Fez-se a desolação nos rostos que se ergueram. Os primeiros gestos, lentos, não acompanharam o frenesi do pensamento. Desespero. – Como é possível minar tanta água desses rostos de areia? Coube ao acaso a seleção dos fortes (que recolheram os corpos). Ao poema, cabe despejar sobre o chão, e na cara dos facínoras, uma resma de dúvidas. De algum ponto, cabe o recomeço.
Sonho no absurdo
Para Mahmoud Darwich
Não tirem do poeta a visão;
podem condená-lo à loucura
do mergulho no poema sem fim.
I
O poeta sabe a textura exata do sonho.
E por perceber que os números são símbolos
que poderiam arrastar seu povo,
foi o primeiro a se equilibrar nos destroços.
Não azulava as dúvidas com preces
e entendia a sujeira como um vício da realidade.
Caminhando em silêncio,
observou que a ausência de espaço
não havia poupado nem mesmo as sombras.
Homens desencontrados
cruzaram o limite da incerteza
e bradavam:
– Não pedi esse conflito.
Mas, na dúvida,
deixo a arma engatilhada!
Nunca foi do poeta o primeiro momento...
II
Aos primeiros que o ouviram disse:
– Se abuso daqui à esquina de minha casa,
perco o controle do dia.
– A vida é ritual de pontes.
Vejo triste, que entre o dito e o pensado
ficou uma ponte tombada.
– Hoje massacraram nossas verdades,
e enxergamos o abismo.
Choraram juntos a mais temida das mortes.
III
O poeta sente o absurdo do tempo humano.
O homem aquietará.
E juntos, todos os ponteiros
deixarão de ter sentido.
É do homem, buscar refúgio nos dias.
IV
Nos escombros,
na esquina antes sem luz,
sentaram as crianças.
Diante delas
o poeta circundou com o dedo
seu corpo na areia.
Com um salto
surpreendeu-as com a facilidade
que superou o limite de sua prisão.
O poeta percebe o momento exato do nascimento do sonho.
Não se ruminam os sonhos.
eles se costuram
e crescem... Céu de bombas
Não interrompa o cotidiano das serpentes
elas não buscam nos homens seu veneno.
Por que choras por mim meu pai?
Cumpri com o que me coube
nessa Gaza de feras.
Em cada criança morta, sacrificada,
um objetivo insano.
Despeço-me do dia
sob flashs e bombas.
Uma fome doentia
molhou teu corpo com meu sangue.
Estrelas dos profetas cruzaram os céus
e pulverizaram os créditos de minha infância.
A ambição de poder comeu meu destino.
Com a força, roubaram-me o sorriso.
Meu pai, nem sei perguntar por quê.
Não tive tempo para me nutrir de ódio.
Pensando bem pai,
que às lágrimas partam.
Transpareças a indignação em teu rosto
nas telas indiferentes do Mundo.
Sobretudo, crê pai,
crê no triunfo do olhar de tua filha,
fosco de morte,
voltado para esse lindo céu,
reluzente de bombas,
nessa noite de um domingo de fúria. PACÍFICO
Ser o vento desperdiçando a força nas folhas mortas (Um passo, ou outra maneira de deslizar na existência) E ao saber o nome das pedras atiradas, demovê-las da urgência de sangue.
Ser o vento desperdiçando a força nas folhas mortas (Um passo, ou outra maneira de deslizar na existência) E ao saber o nome das pedras atiradas, demovê-las da urgência de sangue.