Dublin, a capital da República da Irlanda, foi sempre um lugar que tive muita vontade de visitar. Sempre gostei de fazer turismo por minha ...

O livro de Kells

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Dublin, a capital da República da Irlanda, foi sempre um lugar que tive muita vontade de visitar. Sempre gostei de fazer turismo por minha própria conta, isto é, organizando meu roteiro particular e visitando só o que me interessa. O idioma inglês sempre me ajudou, graças ao incentivo de meu pai. A partir dos dez anos, ensinou-me as primeiras letras do idioma de Shakespeare, o qual me entusiasmei, estudando desde essa idade, nas Cultura Inglesa (Alan Douglas Bennett) e Francesa (Pierre Gallice). Aos 16 anos, já era professor de inglês da Cultura Inglesa e este fato, muito facilitou minha aprendizagem na vida profissional. Porém, sempre que pensava em viajar à Irlanda, havia o problema da passagem aérea. Muito cara. Um dia, recebi uma notícia da companhia alemã Lufthansa oferecendo um desconto de 40% de desconto no bilhete aéreo. Foi então que tive a oportunidade de conhecer esse interessante país.
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Ficamos hospedados, minha mulher e eu, no The Clarence Hotel, localizado às margens do rio Liffey, de propriedade dos dois principais vocalistas do grupo musical U2 Bono Vox e The Edge.

A Irlanda fica próxima da costa da Inglaterra e do País de Gales, ocupando a maioria da ilha. Em 2010, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) concedeu à Dublin o título de Cidade Patrimônio Mundial de Literatura. Só existem seis cidades no mundo com esse título. Suas escolas primárias são consideradas as melhores do planeta e o país sempre foi administrado com uma forte influência católica. Atualmente é o país com a maior oferta do ensino da língua inglesa. A Inglaterra já ocupa o segundo lugar.

Há muito o que visitar nesse país. O Dublin Writers Museum (o museu de escritores de Dublin), é um deles, onde estão apresentadas as principais celebridades literárias do país, por meio de livros, fotos, cartas e objetos pessoais como, por exemplo, a máquina de datilografia de James Joyce (Ulisses) e o telefone de Samuel Beckett (Os dias felizes). Os dois livros de Joyce que tive oportunidade de ler foram: “Os Mortos”, do qual gostei muito, e “Finnegans Wake”, que não consegui entender quase nada. Outros autores famosos que fazem parte desse museu são: Bram Stoker, criador de Drácula; Oscar Wilde (O retrato de Dorian Grey); Jonathan Swift (As viagens de Gulliver); Sean O’ Casey (Pinturas em um Vestíbulo); George Bernard Shaw (Pigmaleão); Brendan Behan (Confissões de um Irlandês Rebelde) e muitos outros.

A cervejaria Guinness, com sua excelente cerveja preta, forte e adocicada, chamada em inglês stout, é também outra grande atração que merece ser visitada.

O Trinity College Dublin é a maior universidade da Irlanda, fundada em 1592 pela rainha Isabel I da Inglaterra, no local onde se situava um antigo mosteiro agostiniano. Sua biblioteca é uma das maiores na área de pesquisa do mundo, possuindo a maior coleção de manuscritos e livros impressos da Irlanda. Desde 1801, tem o direito de reivindicar uma cópia gratuita de todas as publicações britânicas e irlandesas sob os atos de direitos autorais relevantes e tem um estoque de quase três milhões de volumes alojados em um total de oito edifícios. Possui uma arquitetura espetacular e foi eleita a mais bonita do mundo em votação online no ano de 2015, promovida pelo site da “Architecture and Design”.


Sua maior atração é o “Livro de Kells”, escrito por São Columbkil, em 475, manuscrito cristão que contém os quatro evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João) do Novo Testamento e é considerado por especialistas como um dos mais importantes vestígios da arte religiosa medieval. O manuscrito possui hoje 340 folhas – algumas se perderam, outras foram recuperadas. É o livro mais antigo do mundo, avaliado em pelo menos 12 mil libras esterlinas em 1874. Para título de comparação, no ano anterior, uma Bíblia de Gutemberg em velino (papel pergamináceo, muito liso e fino, fabricado com couro de carneiro ou bezerro) tinha sido vendida, num leilão da biblioteca da família Perkins, em Hanworth Park, perto de Londres, por 3.400 libras, o maior preço pago até então por qualquer livro.
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O “Livro de Kells” é o símbolo icônico da cultura irlandesa e está incluído no Registro da História do Mundo, da UNESCO.

Existem algumas hipóteses, uma delas é que esse livro foi roubado por volta de 1007, por ladrões que estavam apenas interessados no ouro que o ornamentava. Supõe-se que o grande Evangelho de Colum Cille foi sacrilegamente roubado à noite da sacristia oeste da Igreja de Cennanas. Era o objeto mais precioso do mundo, devido à sua capa com formas humanas. Foi recuperado despojado de todo seu ouro. “Colum Cille” significa Columba da Igreja ou São Columba. “Cennanas” é o antigo nome da cidade de Kells, ou Kenlis, no condado de Meath, cerca de 65 quilômetros a noroeste de Dublin.

Houve um período em que desapareceu da biblioteca do Trinity College, por volta da metade do século XIX, porém foi descoberto que o bibliotecário J. A.Mallet, o havia levado pessoalmente ao Museu Britânico, em Londres, para se aconselhar quanto a uma encadernação.

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O livro apresenta, nas suas páginas, ilustrações muito diferentes de nosso gosto. Segundo o paleógrafo Christopher de Hamel:

A cabeça de Maria é grande demais para seu corpo, ela tem imensos olhos arregalados delineados em vermelho, um nariz comprido que parece escorrer para baixo e uma boca muito pequena. Seus seios caídos são visíveis, através da túnica púrpura, e suas pequenas pernas estão viradas para os lados como um desenho de uma criança. O bebê, visto de perfil, é grotesco e detestável, com cabelos revoltos avermelhados, que mais parecem algas, nariz e queixo protuberantes voltados para cima, e uma tormentadora linha vermelha do nariz até a orelha, talvez um prenúncio da barba do Cristo adulto. A criança tem dois pés esquerdos.

Desde o início do século XII, o “O Livro de Kells” já era visto na igreja em Kells, onde as pessoas assinavam seus nomes no livro dos visitantes. Esse manuscrito foi inspecionado em Kells por James Ussher (1581-1656), grande colecionador de manuscritos, proeminente estudioso da Bíblia e depois arcebispo de Armagh e primaz de toda a Irlanda.
Ficou conhecido por haver calculado que o mundo moderno teria sido criado na noite de sábado para domingo, de 22 a 23 de outubro do ano 4004 a.C.

Foi continuamente visto por inúmeras autoridades, entre elas, a rainha Vitória e o príncipe Albert; Eduardo VII e a rainha Alexandra; o arcebispo da Cantuária Archibald Tait, o imperador do Brasil D. Pedro II e o presidente dos Estados Unidos de 1869 a 1877, Ulysses S. Grant.

Em 1914, foi publicado um livro ilustrado com o mesmo nome “Livro de Kells”, contendo 24 gravuras em cores, por Sir Edward Sullivan (1852-1928). Uma cópia pertenceu a James Joyce no início da década de 1920. O famoso escritor descreveu-o a Arthur Power: [... Em todos os lugares nos quais estive, Roma, Zurique, Trieste, eu o levava comigo, e ficava apreciando a arte de seu acabamento durante horas. É a coisa mais puramente irlandesa que temos, e alguns das grandes letras iniciais que se balançam atravessando uma página, tem a qualidade essencial de um capítulo de Ulisses. Realmente, pode-se comparar grande parte de minha obra a essas intricadas iluminuras ...]. No seu último livro, “Finnegans Wake”, Joyce menciona nominalmente essa edição ilustrada do “Livro de Kells”.

Para quem tiver oportunidade de visitar Dublin, não poderá deixar de visitar o “Livro de Kells” e, obviamente, a espetacular biblioteca do Trinity College que abriga atualmente mais de 200 mil livros antigos.

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  1. Edificante texto. Ressalta o prazer de viajar reverenciando Sua Excelência: o Livro.

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  2. Viagem fantástica! Para o autor e para mim, que acabo de viajar com ele. Descortina para mim um novo e inusitado destino, pois nunca inclui a Irlanda nos meus projetos.
    Deve ter sido uma viagem fascinante, especialmente as visitas às bibliotecas.
    Parabens, Sérgio! Fantástico!

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  3. Obrigado a todos os amigos pelos comentários.

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  4. Teófilo Carlos do Nascimento Monteiro4/7/23 04:17

    Oi Sérgio
    Acabamos de visitar Dublin e ainda seguimos em viagem pela Itália. Dublin realmente é muito linda voltamos lá depois de 30 anos e a diferença é enorme agora está mais linda e muito viva, a entrada na Comunidade Europria fez muita bem a Irlanda e aos Irlandeses. Uma curiosidade que me impressionou foi a quantidade de Brasileiros que lá vivem.
    Quanto ao Livro também fomos visitar e ficamos impressionados com grandiosidade na arte e em sua representatividade.
    Abraço

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  5. Teófilo Carlos do Nascimento Monteiro4/7/23 04:17

    Oi Sérgio
    Acabamos de visitar Dublin e ainda seguimos em viagem pela Itália. Dublin realmente é muito linda voltamos lá depois de 30 anos e a diferença é enorme agora está mais linda e muito viva, a entrada na Comunidade Europria fez muita bem a Irlanda e aos Irlandeses. Uma curiosidade que me impressionou foi a quantidade de Brasileiros que lá vivem.
    Quanto ao Livro também fomos visitar e ficamos impressionados com grandiosidade na arte e em sua representatividade.
    Abraço

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