Parte 2: Paris Desde a juventude que uma das minhas canções francesas prediletas é "Dimanche à Orly", na voz de Gilbert Béc...

Avant-première na Europa (2)

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Parte 2: Paris


Desde a juventude que uma das minhas canções francesas prediletas é "Dimanche à Orly", na voz de Gilbert Bécaud. E foi com essa música na cabeça que desembarcamos no aeroporto de Orly, ao sul de Paris. Isso após havermos passado uma semana em Barcelona.

Demoramos o suficiente para trocar dólares por francos no câmbio oficial do aeroporto. O câmbio estava favorável ao dólar, na proporção de 5,50 francos por dólar. O câmbio era feito por um sujeito afetado, profundamente antipático, mal educado até, e que destoava da linda écharpe que envolvia o seu pescoço.

É honesto esclarecer que desembarquei em Paris pela primeira vez, porém falando o francês que havia aprendido no Colégio Pio X, três décadas atrás. Mas isso não desculpa a grosseria do cambista! Apenas atenua…


Antes de sair do aeroporto, procuramos nos orientar. Buscamos o escritório de informações ao turista, identificado por um grande i itálico. Lá obtivemos mapas da cidade e dos metrôs. Era uma época em que não havia as facilidades oferecidas hoje pela internet. Estudamos bem os mapas, selecionamos as linhas de metrô do nosso interesse, e partimos para a nova aventura. Cansados, porém animados por finalmente estarmos em Paris.

Nosso destino era o apartamento de Jean Phillipe e Nathalie, um casal de jovens amigos de Silvino, meu irmão, que gentilmente nos acolheram em sua casa em Paris.

O endereço era a rua Notre Dame de Nazareth, próximo à praça Republique. Desembarcamos na estação Temple, na rua homônima, pois era a mais próxima de nosso destino.

Era uma noite de sábado, fria, e lá estávamos nós arrastando mala por uma ruazinha estreita, cercada de edifícios típicos de Paris. O cansaço já começava a abater o entusiasmo. Que piorou ainda mais quando descobrimos que nosso destino era o quarto andar de um edifício que só tinha três andares. O apartamento era na água-furtada. Porém, o carinho da recepção foi tamanho que fez desaparecer todo o cansaço e aumentar o espaço no apartamento.

Uma curiosidade: o banheiro tinha as paredes todas forradas por cortiça, e o assoalho era coberto por um espesso carpete azul. O banho era dentro de uma bacia de louça quadrada, sobre uma pequena plataforma de madeira. Nós nos enrolávamos na cortina e usávamos uma longa ducha de água. Ainda bem que tínhamos um ao outro: evitava o contorcionismo.


Na manhã seguinte Jean Phillipe foi nos deixar no Museu do Louvre: que emoção! Um detalhe: estranhamos a pirâmide de vidro no Jardim Napoleão, que havia sido inaugurada alguns meses antes.

Muitas outras emoções teríamos ao longo do dia. Logo demos de cara com a Vitória da Samotrácia. Depois vieram os sarcófagos, as múmias, imensos leões, galerias repletas de pintores famosos. E coroamos a visita com a pintura mais célebre do mundo: La Gioconda! Sim, a Mona Lisa de Leonardo da Vinci “em carne e osso”!

Lá estava aquele quadro que conhecemos desde a infância, quase ao alcance das nossas mãos…

Já tendo anoitecido, nós dois tremendo de frio, encontramos uma sequencia de pequenos restaurantes na rua da Ópera de Paris. Optamos por L’Universitaire.

Fomos atendidos por um garçon bem humorado e paciente, avis rara em Paris. Aos poucos o meu francês foi despertando, desabrochando o suficiente para perguntar-lhe o que era a opção “Pratos combinados,” do cardápio que lemos na calçada. Após ouvir a explicação, fizemos as nossas composições. O garçon pacientemente anotando.

Como entrada, ambos pedimos sopa de cebola. Ia bem com o frio da noite. Como prato principal, Ilma optou por um hadoque e eu preferi uma massa. Para sobremesa, pedi torta de framboesa. Como Ilma não é muito chegada a doces, e havia a opção “queijos selecionados,” perguntei-lhe quais eram os queijos, e fiquei em dúvida se tinha respondido ou soltado um arroto, pois não compreendi o que ele disse. Mas pedi assim mesmo.

Olhamos em torno: o restaurante lotado de jovens, principalmente japoneses. Eu achei que eram os mesmos que havia deixado em Barcelona, como foram rápidos! Mas Ilma me beliscou.

Pouco depois, o garçon trouxe as sopas de cebola: deliciosas! À medida que terminávamos, ele recolhia o prato e trazia o seguinte. Veio a minha massa; logo depois, o hadoque. Trouxe a minha torta de framboesa. Aí Ilma terminou seu prato e ... aconteceu: o garçon trouxe os queijos selecionados! À medida que ele passava pelo restaurante em direção à nossa mesa, todos os japoneses viraram o rosto, franzindo o nariz.

Foi quando ele depositou o prato diante de Ilma, que ela reagiu, braba, e me disse: “Eu não vou comer isso!”

Assim, tive que partir para o delicioso sacrifício. Apertei o nariz e comi os queijos: saborosos, desde que não sentisse o cheiro…


Na segunda-feira fomos flanar por Paris. Visitamos o Centro Georges Pompidou, conhecido como Beaubourg. É um curioso edifício moderno, que abriga atividades artísticas e culturais.

Depois fomos visitar Les Halles. O que antes era um mercado sujo, um imenso pardieiro, hoje é uma grande e moderníssima praça. As suas estruturas, com estilo semelhante às linhas dos prédios antigos, usam placas e tubos de metal, e esse elemento foi inserido em vários edifícios centenários que ficam no entorno, causando um suave e agradável efeito de harmonia da arquitetura moderna com a antiga.

No centro da praça existe algo que eu nunca tinha visto: um prédio subterrâneo! Um edifício que cresce para o interior da terra. Seu andar mais elevado é justamente o térreo, por onde entramos.

Lá embaixo, no último andar, no fundo do edifício, encontra-se uma estação de metrô de alta velocidade, o RATP.

Um dos andares é quase todo ocupado por uma filial da Fnac, loja de departamentos. Todos de elevado bom gosto. Não apenas livros, discos, vídeos, cartazes, quadros, como também artigos eletrônicos, os mais avançados e variados possíveis.

Deixamos Les Halles para trás com a recordação de um dos melhores filmes a que já havíamos assistido: "Irma La Douce", de 1963, com Jack Lemmon e Shirley MacLaine. Foi todo rodado no antigo mercado de Les Halles.


A caminho da Torre Eiffel passamos pelo Arco do Triunfo. Ficamos impressionados com a majestade da obra. De lá podemos avistar a parte moderna de Paris.

A nossa visita à Torre Eiffel começou com uma parada nos Museus do Homem e da Marinha, no Trocadéro, que está diante da torre. No primeiro acontecia uma exposição do antropólogo Claude Levi-Strauss, sobre povos amazônicos. Muito interessante.

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Torre Eiffel Cyril Mazarin
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Arco do Triunfo Bastien

O Museu da Marinha também vale uma visita. Lá, entre atrações, encontramos a barca de luxo que transportou Napoleão III com a imperatriz Eugenie. Ela é toda dourada, e possui dez remos de cada lado, em cada remo o nome de um peixe.

Nesse museu, maquetes mostram como foi que os franceses furtaram do deserto do Egito o obelisco que hoje está na Praça da Concórdia, no centro de Paris. Foi muita engenhosidade, para satisfazer o capricho do imperador: serraram o obelisco em sua base e deitaram na areia. Então arrastaram um navio da margem do Rio Nilo até perto do objeto, serraram e levantaram o casco, abrindo o navio, e introduziram o obelisco ao longo do porão. Quanta determinação!


A Torre Eiffel era uma das nossas duas principais metas em Paris. A outra foi o Museu Louvre. Na base da torre eu tive dúvidas se estava ali, de tanta emoção!

Cada um dos quatro pés tem um nome: Jupiter, Saturno, Urano e Netuno. No segundo andar está situado o restaurante Jules Verne.

Mas o estágio mais interessante é o terceiro. Acima dele só a antena de televisão. Neste estágio é possível descortinar toda a cidade em 360 graus! Situa-se dentro de uma estrutura de metal protegida por grossos vidros. Pois a Torre Eiffel já foi campeã mundial de suicídios.

Há uma lenda de que Eiffel foi o primeiro a pular do alto da torre. Na realidade ele morreu em sua mansão em Paris. Segundo historiadores, ouvindo o Andante da 5ª Sinfonia de Beethoven.

No terceiro estágio tive uma grande surpresa. Estávamos todos hipnotizados pela paisagem da cidade em torno, quando a curiosidade bateu e olhei em torno, para ver onde é que estávamos. Eu tive um susto!

Através de uma ampla janela que se situa atrás dos visitantes, vi três figuras em torno de uma mesa: Gustave Eiffel contando algo para Thomas Edison, que escutava atentamente, com a cabeça inclinada para a direita, segurando uma taça numa mão e uma cigarrilha na outra.

A pouca distância, assistindo à cena, estava a filha de Eiffel, em pé, segurando uma garrafa de vinho. A cena era perfeita. Custei a crer que eram estátuas de cera. No primeiro momento pensei que eram atores, e esperei que se movessem.

Fui, assim, surpreendido por algo que não é descrito por outros visitantes: os aposentos de Eiffel. Inesquecível!


Na tarde seguinte visitamos a catedral de Paris, Notre Dame. Construção gótica, interior escuro, vitrais belíssimos. As imagens de santos me impressionaram pelo ar de sofrimento que exibiam.

Mas o que eu mais gostamos foi visitar o andar superior, onde encontramos as famosas gárgulas. Mais espetacular ainda foi subir os 400 degraus até o campanário. Lá estavam os sinos imensos, com vários séculos. Sinos, gárgulas, longa escadaria... Senti-me o próprio Quasímodo, O Corcunda de Notre Dame!

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Notre Dame Sebastien
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Sacre Coeur Xuan Nguyen

De igreja para igreja, depois de Notre Dame fomos visitar a Sacré Coeur, no bairro boêmio de Montmartre. Igreja imensa, situada na região mais elevada de Paris, visível por toda a cidade. E de onde se tem uma vista privilegiada.

Em sua escadaria sentavam-se centenas de visitantes, inclusive os jovens japoneses, com as suas câmeras assestadas para tudo quanto é lado. Percebiam-se no entorno muitos refugiados, árabes em sua maioria.

Este é um resumo da nossa primeira visita a Paris. Depois retornaríamos duas vezes. Espero brevemente rever a Cidade Luz.

Au revoir, Paris!

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  1. Ótimo resumo ..caro José Mário Espínola!! que, para quem não conhece Paris..é um chamamento muito forte.
    Paulo Roberto Rocha

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  2. Fiz essa viagem maravilhosa com o casal. Me senti novamente em Paris descobrindo detalhes que não conseguimos ver em nossa viagem. Parabéns

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  3. Agradeço a todos amigos viajantes. Logo poderemos rever a nossa eterna Cidade Luz!

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  4. Infelizmente, caro Zé Mário, muitas dessas impressões, hoje, são vãs.
    Aquele ar "démodé" que caracterizava a Paris eterna já não existe, dada a invasão étnica que a cidade está sofrendo e que a faz adquirir ares de miséria que não se coadunam com sua importância como capital mundial da cultura e do bom gosto.
    Mesmo assim, como disse o Rei Henrique IV, “Paris vaut bien une messe”, frase que, segundo se comenta, teria sido repetida pelo General Dietrich von Choltitz, comandante das tropas nazistas que ocupavam a cidade, ao se recusar a obedecer a Hitler, que lhe determinara destruir completamente Paris.
    Recusa que bem podemos considerar um preito à civilização ocidental.

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  5. Bela descrição deste passeio por Paris.Deu.saudade.

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