Não há o que mais me impressione no ser humano do que vê-lo pintando bisontes e mamutes nas paredes e tetos das cavernas, há 15 mil, 30 mil anos. Talvez por isso, a primeira forma de arte que encarei tenha sido a pintura e, antes dela, o desenho. Posaram para mim o meu avô, meu pai, mãe e irmãos.
Pense no que é a mente de uma criança traduzindo quatro dimensões em duas. Tive grandes espaços de tempo exclusivamente pintando um só quadro - como, em 94, minha versão do Jardim das Delícias, de Bosch: seis meses. Nove meses, em 97, criando o painel "Homenagem a Shakespeare". As palavras se calaram, entraram em ação as sombras e luzes, cores, linhas.
Pense no que é estar num palco, sendo, por duas horas, outra pessoa. Ou num filme, com isso fragmentado em tomadas, takes de um minuto, dois, trinta segundos.
Pense no que é passar três, quatro anos escrevendo romance... e criando comerciais de meio minuto, para TV.
Pense no que - invertendo o processo de transportar faces para folhas de papel - criar um busto, em argila, a partir de fotos.
Tive grandes momentos ante meus textos musicados por compositores de peso, apresentados por corais com grandes solistas, sinfônicas. Fiz roteiro pra balé, libreto de ópera, roteiro de filme. Acho que só a Paraíba, mesmo, me permitiria essas viagens.
O esmero de um Elpídio Navarro, transportando para seu blog meus Brevíssimos Ensaios Muitíssimo Ilustrados durante 40 semanas! Encerrando, passei, a partir de 2005, a me dedicar exclusivamente a meus "tratados poético-filosóficos", que culminarão - suponho - com o 1/6 de Laranjas Mecânicas, Bananas de Dinamite, que devo publicar em breve.
Pena que tudo tenha produzido mais plenitude em mim do que nos outros.
C´est la vie.