Sabe quando você pensa no quanto já viveu e surge aquele pensamento de dúvida sobre o quanto existe para viver mais? Estou assim, ocupando...

Ando tão à flor da pele

literatura paraibana cronica cotidiano auto ajuda pandemia isolamento vizinhanca
Sabe quando você pensa no quanto já viveu e surge aquele pensamento de dúvida sobre o quanto existe para viver mais? Estou assim, ocupando o tempo sem realmente entender as noites e dias, os acontecimentos abalando o mundo, as pessoas distantes que não abraço mais.

Para não me perder, desenho outros trajetos idealizando diversas paisagens, novas pessoas, casas com jardins floridos. Na verdade, hoje, o que me define são as emoções e o que elas fazem de mim. Fico buscando filmes que possam me encher de amor, releio livros dos quais já conheço as histórias
literatura paraibana cronica cotidiano auto ajuda pandemia isolamento vizinhanca
de final feliz, procuro imagens que me façam sorrir sozinha e acreditar que o futuro será pródigo de boas mudanças.

Tenho um espírito que viaja e uma imaginação pródiga que atiça devaneios.

Outro dia pensei em meu vizinho, um homem que desconheço e que suponho, vive só. Sei que comprou uma televisão enorme, um vídeo game igual ao do meu neto, que encomenda pizza com frequência, tudo isso porque dividimos um espaço onde se coloca o lixo no nosso andar e vi as embalagens. Às vezes, observo sua silhueta na varanda ao lado e vem o cheiro do cigarro que ele fuma olhando o mar. Encho-me de coragem para puxar conversa, mas rápida me recolho atrás das paredes que dividem nossas intimidades. Subitamente me dou conta que compartilhamos o mesmo edifício, o mesmo elevador, nada, além disso. Que importância tem os sentimentos dessa pessoa, o que ela come, de onde veio, ou qual é o seu nome? É a parte real que importa, é a privacidade onde cada um se refugia para viver.

Nada é tão simples. Não basta desejar, para me safar desses arames que prendem impiedosamente meus pés. O momento não é para viajar, sair livremente, ou rir junto a outras pessoas. É a força do desconhecido, que possui a velocidade de um piscar de olhos, lutando contra minha fragilidade, meu medo de ter uma garrafa de oxigênio acoplada aos pulmões. Não tenho o poder, que antes tinha, de alterar a realidade. Hoje ela é quem define as fronteiras, os desfiladeiros, as armadilhas.

Sou feita de contradições e rio dos meus incipientes pensamentos enquanto escrevo, pois, gosto de escrever o que vou pensando e gosto de ler o que escrevo. Deixo a emoção ditar o ritmo veloz com que martelo as teclas e nem imagino quando o escrito será finalizado. Talvez fosse mais interessante escrever sobre o meu desejo de comprar uma bota vermelha igual à que eu vi numa propaganda. Linda, mas me vem à realidade. Bota vermelha para usar quando? Onde? Percebo que a bota vermelha me remete ao futuro, ao sonho de andar no frio, de deixar guardada em algum armário, esta sandália de borracha que me acompanha noite e dia.

Melhor mesmo, é continuar a conjecturar e escrever sobre a vida com a dor se disseminando impiedosa, é prosseguir camuflando sentimentos em um coração emoldurado num quadro. No entanto, um dia desses, crio coragem e converso com o vizinho. Talvez, ele queira tomar um café, comer pão de queijo e falar sobre a brisa que vem do mar, sobre a amizade entre os humanos, sobre o brilho das estrelas e o quanto desejamos amor e paz.

Se existe um vírus que veio com o encargo de nos transformar, o que resta é despertar a ternura e afeto que impregna a alma de todos nós, enquanto há tempo.
* Título inspirado da música Flor da Pele de Zeca Baleiro.

COMENTE, VIA FACEBOOK
COMENTE, VIA GOOGLE
  1. Como sempre viajei ...relembrei...chorei e senti brotar a angústia que insisto em camuflar com um largo sorriso da boca pra fora...porque por hoje o que temos dentro é a insegurança no amanhã.Mas ainda assim vou esperar pelo abraço...pelo riso fácil e acima de tudo esperar que os " mortais" permitam o renascer do amor.Gratidao por continuar...apesar de...🌻

    ResponderExcluir
  2. Como sempre viajei ...relembrei...chorei e senti brotar a angústia que insisto em camuflar com um largo sorriso da boca pra fora...porque por hoje o que temos dentro é a insegurança no amanhã.Mas ainda assim vou esperar pelo abraço...pelo riso fácil e acima de tudo esperar que os " mortais" permitam o renascer do amor.Gratidao por continuar...apesar de...🌻

    ResponderExcluir

leia também