ELEGIA
Ainda não sonhei contigo. Deus não me deu o castigo De enganar-me o coração Com uma triste ilusão. Sabe que, clareando o dia E estando a casa vazia, Seria ver-te voltar E recuperar o lar Para ir embora outra vez. Seria pior, talvez, Uma comoção mais forte Que o dia de tua morte.
José Américo de Almeida
Ainda não sonhei contigo. Deus não me deu o castigo De enganar-me o coração Com uma triste ilusão. Sabe que, clareando o dia E estando a casa vazia, Seria ver-te voltar E recuperar o lar Para ir embora outra vez. Seria pior, talvez, Uma comoção mais forte Que o dia de tua morte.
José Américo de Almeida
O terno olhar da formosa Alice, sempre a emoldurar os crepúsculos das esplêndidas tardes que desenhavam o sobrado de azulejos, em suas cores azul e branca, na Rua Direita, um belo dia haveria de se cruzar com os olhos sensíveis e apaixonados de José Américo.
Ao falar desse amor, assim delinearia o estimado escritor: “constitui um lar, o mais feliz, pelos tesouros de bondade e da virtude que me trouxe a companheira desse meu novo modo de vida”. Toda uma vida dedicada às razões de anseio social e ao bem do próximo.
Simplicidade, paciência e doçura eram qualidades que mais se afinavam com as maneiras de pensar e viver da areiense e bela de feições Ana Alice de Melo Almeida. “Alice foi autêntica cristã, praticou a caridade de que fala o evangelho, nunca errou, nem por omissão”. Descreveria, certa vez, sobre sua senhora, o autor de A Bagaceira.
Extremamente bondosa, Alice dedicava seu tempo a clamores sociais. Ao lado do marido, se entregava à articulação de políticas públicas em benefício dos paraibanos. Assim, ela, também, se portava, no período gravíssimo da seca, ao se embrenhar por cariris e sertões, a distribuir vestimentas e gêneros alimentícios.
A admirável voz feminina vivia a espelhar o gesto moderador do extraordinário homem público que foi José Américo de Almeida.
“Era reconhecido, por todos, inabalável sentimento de amor, admiração e respeito entre ambos”. Nas palavras de quem testemunharia a linda convivência do casal, Ofélia Gondim, advogada, professora da UFPB e bandeirante, acompanhava Alice Almeida em suas ações públicas, sempre, em favor dos que mais precisam.
A primeira-dama dividia seu dia com as funções de presidente da Legião Brasileira de Assistência e da Organização das Voluntárias, no enfrentamento social e na proteção à maternidade e à infância, e com o seu papel de esposa e mãe e de secretária do escritor, na datilografia dos seus originais, naquela época, escritos à mão.
Pouco tempo depois de completar sessenta anos de vida, Alice Almeida era acometida de grave doença degenerativa, que a levaria ao Rio de Janeiro, onde veio a falecer. O silêncio do pomar logo daria lugar aos sentimentos de orgulho e saudade.
Hoje, repousam, os dois, no mausoléu erigido pela Fundação que dá nome ao seu patrono, desde janeiro de 1983, onde se encontra expresso e impresso o pensamento vivo de José Américo.
“Minha Paraíba amada: vi tantas coisas grandes e mesquinhas, vi o bem e o mal, vi ascensões e vi abismos. Agora, só quero ver-te a ti. Só quero o regaço maternal que será depois de tantas lutas, o meu final e doce repouso”.
Lugar onde também se acha escrita a última homenagem do escritor à sua amada Alice: “Deus a ungiu com a verdadeira santidade: o amor ao próximo. Essa beleza d’alma era um reflexo da beleza do rosto”.
À Janete Lins Rodriguez, em nome de todas as dadivosas e cuidadosas mulheres que bordam e fazem florescer os lindos rios e caminhos a regerem e a colherem os infinitos horizontes da Casa de Zé.