Era um gosto diferente, a sensação do experimentar, a descoberta traduzida em paladar... em sabor de fruta. O olhar admirado da aprovação diante daquele novo, o cheiro conquistador dos galhos, do chão de tapete de fruto caído e montado naturalmente. E o menino, como num ritual, descobria que fruta madura retirada da árvore brotada no meio do mato tem mais encanto, é mais saborosa. Cajus, mangas, oliveiras, siriguelas, goiabas, jambos, etc.
Uma caminhada pelos labirintos de trilhas mal abertas no meio do mato para encontrar árvores frutíferas pela beirada do percurso. Subir nos galhos, esticar a mão, utilizar um pedaço de pau qualquer ou uma vara adaptada com alguma forma de bolsa amarrada à ponta para alcançar a fruta. Ou ficar em pé, embaixo do pé (aqui caberia um emoji com risinho), feito um goleiro na hora do pênalti, para de alguma forma agarrar o fruto em queda livre após ser incentivado a "pular" por um amigo a chacoalhar as galhas sob o risco de despencar também. O arqueiro frutífero não podia deixar a fruta se esbagaçar ao chocar-se com o chão. O prêmio era um beijo da fruta fresquinha.
Claro, antes uma limpada básica do alimento caso se conseguisse água fresca. Ou, em situações mais emergenciais para degustar o fruto, uma passada no próprio short, caso acidentalmente esta tivesse tocado o chão. Com cuidado, pois cajus e outros frutos deixam nódoa, estragam a roupa.
Por vezes, urbanas, outras tantas "selvagens". A "caçada" às frutas do pé tinha o sabor de aventura para aqueles meninos pré-adolescentes. Elas continham muito mais sabores que as compradas nas feiras. O desafio de escolher o alimento, alcançá-lo, conquistá-lo, saboreá-lo, acrescia um gostinho a mais: a vitória ante o desafio de encontrar e pegar o fruto.
A boca aprendia novas essências. Eram beijos frutíferos que penetraram na memória, sabores inigualáveis armazenados. Doces e até meio amargos, porém todos deliciosos, um balaio de paladar seduzido.
Sabores da natureza, conexão com a liberdade nos pés descalços, no vento no rosto, na língua experimental. Tipo primeiro beijo na boca, misto de choque e prazer... o doce descobrimento.