Eu, se pudesse, hoje te daria um beijo. Estalado, roubado, risonho, vermelho. E te abraçaria com força, te espremendo as costelas, até...

Só para te fazer sorrir

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Eu, se pudesse, hoje te daria um beijo. Estalado, roubado, risonho, vermelho.

E te abraçaria com força, te espremendo as costelas, até te ouvir dizer: “Para! Tá todo mundo olhando!”.

Soube ontem, numa página de doutores, que sementes de amor recuperam brilho de olho e curam muita coisa, inclusive (não conte aos descrentes) tristeza, quebranto, coração partido, espinhela caída e saudade.

Hoje eu quis plantar essa semente na terra macia do teu coração. Semente de fruta fresca, brilhosa como estrela e capaz de contar piadas destinadas apenas ao teu riso.

O que dizes? Que sementes não são assim? Não brilham nem contam piadas?

Ora, que falha na educação que te dei!

Vem, senta aqui ao meu lado e me deixa te contar: na árvore lá do quintal, bem no começo da primavera, nascem uns botõezinhos miúdos. Eles brotam do tronco ressecado das árvores velhas. Tornam-se flores rosadas que o vento carrega. No lugar delas, brotam folhas bem rubras. Só então é hora de surgirem as sementes. Elas se escondem entre os galhos. Vão virar frutos suculentos se caírem em terreno fértil. Devem ser colhidas em noite de lua cheia, quando as coisas da Terra brincam de ser feitas de prata.

Pega a semente e a planta sem demora no escondidinho do teu peito. Na primeira noite, mal se vê o efeito. Apenas cheiro de leite e um calor que não se sabe de onde vem.

Na segunda, surgem caras risonhas, cavalinhos enfeitados, gatos listrados e pudim.

A terceira noite traz bailarinas coloridas, café, champanhe e um trem azul da cor-do-mar.

Na quarta e última noite vem uma brisa com perfume de jasmim e ruído de vozes em torno de uma fogueira.

Depois disso, a semente nunca mais te deixará. Ela tocará cítara para marcar o ritmo dos teus passos e espalhará suas flores em torno da tua cabeça, mesmo que estejas metido num uniforme de trabalho, cercado de papéis e gentes muito sérias. Ela pintará de verde as paredes cinzas e, se usasses barba, escovaria os pelos do teu rosto até que eles parecessem rolos de seda do Imperador do Japão.

Quando uma lágrima – dessas teimosas e indesejadas – escorregar pelo teu rosto, presta atenção: a água da dor vai pingar do teu queixo e cairá com estrondo sobre o lugar em que dorme a semente. Acordará, sem demora, o amor que vive em ti. Todo vestido de esperança, com o rosto pintado de coragem, ele te beijará quando eu não estiver por perto.

Uma voz invisível então te dirá: vai passar.

Eu, se pudesse, hoje te daria um beijo.

Estalado, roubado, risonho, vermelho. Só para te fazer sorrir.
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