No cenário aflitivo enfrentado por todos os prefeitos e governadores mais próximos das tensões vividas por todos e do luto de milhões de famílias, e bem mais próximos dos heróis da Saúde como essa enfermeira, Edna Araujo, que A União entrevistou em pleno trabalho, assaltou-me a memória a leitura de um livro polêmico de Allyrio Wanderley, “As bases do separatismo”, escrito na ditadura de Vargas.
A motivação daquele autor patoense se sustentava na discriminação econômica, social e política imposta, desde o Império, aos estados do Norte e Nordeste, sobretudo o Nordeste, onde nasceu o Brasil. Contra a vontade de Allyrio, essa discriminação se disseminou sob outras formas, tanto na subestima a talentos e valores do povo como no desempenho econômico, mesmo depois das mudanças operadas a partir da Sudene de Celso Furtado.
Na visão de Allyrio nem a confederação haveria de servir, mas uma separação de nações, que ele via duas bem distintas, a do Nordeste miscigenado com índios, portugueses e africanos e a do Centro-Sul feita de italianos, japoneses, alemães, com outras cabeças e diferentes terras.
Não é o caso das cogitações confederadas de hoje num momento de séria discrepância do comportamento do governo central e os imediatos reclamos de prefeitos e governadores. Tanto é grave e sério o descompasso que a Corte maior, o Supremo, teve de legitimar nas instâncias confederadas a autonomia de ações.
Ou os estados agem por conta própria, providos dos recursos constitucionais, ou vamos esperar que o vírus enjoe e se retire quando quiser e por si mesmo. Nos dois cóleras do século 19 (vide Irineu Pinto / Datas e Notas para a História da Paraíba) e um pouco na gripe espanhola, a providência foi mais de cemitério do que da ciência. Morreram 30 mil na província, o equivalente à população da capital, que contava apenas com três facultativos (médicos), Areia, Campina Grande e Mamanguape apenas com um, cada.
Não há termos de comparação entre os meios de hoje e os de 165 anos atrás. O que pouco mudou foi a imprevidência da população já denunciada pelo governador Pinto e Silva, num relatório em que não se sabe o que é pior, se a fúria do cólera ou a extensão e consequência da pobreza faminta, nua e mesmo assim conformada. Fúria, no entanto, que foi se dando por vencida, ao contrário dos nossos dias de ida a Marte e de inumeráveis premiações científicas.
Houve um felizmente no relatório do governador de 1856:
“Felizmente a epidemia com a mesma intensidade com que apareceu foi diminuindo, de maneira que a 15 de março um ou outro caso fatal apenas se dava”.