Wellington Hermes Vasconcelos de Aguiar foi quem me recepcionou por ocasião do meu ingresso na Academia Paraibana de Letras. E quando o escolhi, falaram alto a nossa amizade e a admiração que eu tinha (e tenho) pelo historiador e pelo cronista. Aliás, o homem Wellington, impulsivo, temperamental, revolto, teria tudo para não reunir os atributos do historiador que o foi, ou seja, um homem dedicado à pesquisa, atividade que exige paciência, pertinácia, disciplina, método...
No meu discurso de posse na Academia Paraibana de Letras, observei: “(...) para recompor o perfil da cidade antiga, ele remove o revestimento de asfalto das avenidas, os paralelepípedos das ruas e becos da João Pessoa de hoje, de agora, para dar no chão batido onde rastreia, passo a passo, o itinerário dos nossos ancestrais”. E concluía: “‘Cidade de João Pessoa – A Memória do Tempo’ é uma ode a esta urbe que se integra à existência de cada cidadão que acolhe, embala e adormece no seu solo sempre renovado por sucessivas gerações”.
Numa bem cuidada edição da Ideia, Wellington Aguiar lançou o seu último livro: “Dona Joaquina, As Normalistas e outros Textos”. Nele, além de reunir dois trabalhos inéditos – os que emprestam o título ao volume –, selecionou mais de uma centena de artigos veiculados em jornais, revistas e outras publicações do gênero. E em quase todos, a presença do polemista desassombrado, instigante, que esgrimia o estilete das palavras em defesa de convicções políticas das quais podemos eventualmente discordar, mas nunca sequer pôr em dúvida de que escrevia movido por sentimentos arrivistas ou interesses escusos.
Mas a par de textos que enfocam a história coletiva, cujos acontecimentos repercutiram no dia a dia dos brasileiros, outros se atêm ao microcosmo de homens e de mulheres que, não obstante circunscritos às suas vidas simples, prosaicas, às suas próprias circunstâncias, fizeram a sua história individual, como foi o caso da indômita Dona Joaquina. Outros, a exemplo do tribuno João da Costa e Silva, o popular Mocidade, embora vindos de outras plagas, identificaram-se com a alma das ruas e dos homens de João Pessoa, além de reunirem o que o pessoense possui de mais intrínseco, de mais visceral, de mais orgânico: o gosto pela contestação.
Ainda rapaz, Wellington Hermes Vasconcellos de Aguiar me conheceu menino da Avenida dos Tabajaras, cujos semáforos, setas e sinais de trânsito que orientam o fluxo dos veículos de hoje, propiciaram-me um poema com o qual o autor de “O Passageiro do Dia” se identificava plenamente, já mesmo por discorrer a respeito de uma das artérias de João Pessoa:
os tabajaras
depuseram
as suas setas
no arco
das esquinas
privaram-nas
de velocidade
no arco
das esquinas
puseram-nas
em repouso
no arco
das esquinas
no arco
das esquinas
as setas
fluem o tráfego
mas congestionam
e desorientam
o antigo menino
da avenida
dos tabajaras
menino antigo
de uma tribo
cuja aldeia
ainda não era
tão global
Texto lido por ocasião da homenagem póstuma prestada a Wellington Aguiar na Academia Paraibana de Letras