Sean Connery, o primeiro e o mais cativante espião da franquia 007, foi, de fato, um ponto fora da curva. Quem mais conseguiria fugir do estereótipo? Quantos seriam capazes de sobrepujar o carisma de James Bond, a saborosa criação de Ian Fleming levada às telas de todo o mundo com recordes de público?
Pois bem, intérprete dos seis melhores filmes da série que depois dele teve prosseguimento com diferentes atores, Connery fez-se maior e mais admirado — entre os mais entendidos na matéria — sem o charme, as armas, os carros, as mulheres, o arrojo e as surpresas de Bond.
Com o americano Os intocáveis ganhou o Oscar de melhor ator coadjuvante, uma das seguidas premiações ao seu talento indiscutível. Outros filmes lhe renderiam, pelo menos, três Globos de Ouro, dois BAFTA, um MTV Movie, dois prêmios do cinema alemão e um Tony (para Melhor Peça de Teatro, em 1998). É mole? Inesquecíveis suas atuações em O Homem que queria ser rei , O nome da rosa , A rocha e Caçada ao outubro vermelho .
Este era Sean Connery, um ator e um ser humano admiráveis. Um cara estupendo. Perdão pelo tratamento vulgar. O homem, afinal, possuía título nobiliárquico. A Rainha nomeou-lhe “Sir”, apesar da origem escocesa, de ser filho de pai católico e de ser membro do Partido Nacional Escocês, legenda de Centro-Esquerda, um tablado da luta pela independência da Escócia.
Anti-imperialista, ao menos naquilo que à pátria lhe concerne, o finado Sir Thomas Sean Connery escandalizaria James Bond. E estaria na mira do agente do temido MI6 (o serviço secreto britânico) se deste último não houvesse vestido o paletó sem seis longas fitas em que, não raramente, salvava ora o mundo, ora a rede de satélites dos Estados Unidos.
Foram elas: 007 contra o Satânico Dr. No , Moscou contra 007 , 007 Contra Goldfinger , 007 Contra a chantagem atômica , Com 007 só se vive duas vezes e Os diamantes são eternos . Pode-se incluir, ainda, nessa lista, 007 — Nunca mais outra vez , título um tanto profético porquanto diz respeito a uma refilmagem fracassada de “Chantagem Atômica”.
Por esse tempo, o nome dele era Bond, James Bond, como gostava de se apresentar. Ah, sim, além de ao MI6 ele apresentou a estonteante Ursula Andress aos aficionados do gênero cinematográfico no qual a CIA costumava aparecer, isoladamente, como salvadora do planeta. Obrigado, James. Eu nunca esqueci aquela saída do mar, aqueles pingos no corpo, aqueles passos graciosos da moça num biquini sumaríssimo.