Enfim, estão chegando as vacinas. Desde o início se sabia que elas eram a melhor forma de enfrentar o coronavírus, mas o governo se recusava a reconhecer isso. Preferia apostar em medicamentos de efeitos duvidosos e até danosos à saúde. O resultado foram longas negociações que deixavam o povo exasperado e medroso.
Tal alegria se justifica na medida em que a covid-19 não tem deixado de ceifar vidas. A cada dia aumenta o número de infectados ou mortos, numa progressão que parece não ter limite. Vemos aos poucos se incluir nesse rol os nomes de conhecidos e amigos, o que não deixa de provocar em nós um vago remorso. Como se fosse injusto sobreviver a tantas perdas queridas. O vírus não quer saber disso. Camaleônico, ele se transmuta em variantes; e quanto mais se propaga, mais se diversifica.
Quem se vacina sabe que não está totalmente imune. Pouco importa. O que conta é a sensação de ter dado o primeiro passo para aliviar a tensão que vinha se acumulando em meses de espera. Uma espera que se tornou mais difícil devido às restrições que a acompanhavam – não sair de casa, usar máscara, evitar aglomerações.
É para reviver momentos como esses que a multidão agora enfrenta as filas. Acompanhei recentemente uma delas, olhando os tipos que se aboletavam nos carros. Num deles vi quatro pessoas apertadas no banco de trás, e na frente, junto ao motorista , uma senhora de idade que ia se vacinar. Uma das crianças do banco traseiro, celular em punho, esperava o momento de dar o clique.