Não fosse Clodovil, o Correio das Artes teria sido extinto. Isso mesmo, falo de Clodovil Hernandes, o estilista que, em inícios dos anos 80, tinha um quadro no programa TV Mulher, da Rede Globo de Televisão.
Sem mais delongas, vamos aos fatos. Numa manhã de um dia qualquer me telefona o escritor Henrique L. Alves, à época presidente da Associação Paulista de Críticos de Artes, para me dar a boa nova: a APCA acabara de conferir ao Correio das Artes o prêmio Melhor Divulgação Cultural de 1981*. Cumpria-me, então, viajar a São Paulo, onde receberia, no Teatro Municipal, a láurea conquistada pelo hoje já septuagenário suplemento. Petrônio Souto, Superintendente de A União, providenciou as minhas passagens e hospedagem.
Foram essas, mais ou menos, as suas palavras no programa TV Mulher, da Rede Globo. Palavras que, entremeadas pelas imagens das capas do Correio das Artes no vídeo da tv, repercutiram, aqui em João Pessoa, muito mais do que o prêmio que fora outorgado ao suplemento pela Associação Paulista de Críticos de Artes.
No anos 1970, editei o Caderno 2 do jornal A União, dando uma ênfase toda especial à literatura, principalmente ao gênero poesia. E como os textos que escrevia eram concebidos geralmente no calor da hora, às vezes toscos, alinhavados, procurei me escudar atrás de um pseudônimo: Acácio Werneck, inspirado na personagem de Eça de Queiroz, o Conselheiro Acácio, cujas frases e sentenças eram perpassadas pelo mais ululante óbvio.
Certa feita, Acácio Werneck publicou um artigo estabelecendo um cotejo entre João Cabral de Melo Neto e Augusto dos Anjos, mais precisamente a respeito de uma declaração do poeta pernambucano numa entrevista que fora concedida a mim, a Luiz Augusto Crispim e a Jomar Souto, na residência do Professor Tarcísio Burity.
Pois bem. Anos depois de publicado o texto Augusto dos Anjos: o que atuou em duas frentes, encontro-me com a poeta Zila Mamede, paraibana de Nova Floresta, mas adotada pela terra do grande Luiz da Câmara Cascudo. Estava às voltas com uma tarefa hercúlea: proceder um levantamento da bibliografia de João Cabral de Melo Neto. E qual a razão de Zila Mamede deslocar-se a João Pessoa? Foi ela mesma quem justificou: “Descobrir quem é um tal de Acácio Werneck, pois por mais que pergunte, que indague, ninguém me dá notícia de quem ele é e muito menos do seu paradeiro”. Foi quando, sentindo-me o próprio Flaubert, ajuntei: “Acácio Werneck sou eu! ” Rimos da coincidência.
Em 1987, Zila Mamede publica Civil geometria — bibliografia crítica, analítica e anotada de João Cabral de Melo Neto (1942-1982), pesquisa de fôlego editada conjuntamente pela Nobel-Edusp, Instituto Nacional do Livro e Governo do Rio Grande do Norte. E na página 346, além da transcrição de parte do meu texto, o verbete:
“Pinto, Sérgio de Castro. Augusto dos Anjos: o que atuou em duas frentes. ‘A União’, João Pessoa, 21 de abr. 1976. Cad. II. O autor, na época, editor do Caderno 2 de ‘A União’, usou o pseud. de Acácio Werneck”.
NOTA DO AUTOR: * O prêmio foi fruto da conjugação de esforços do editor do suplemento, do conselho consultivo, dos colaboradores e da diretoria do jornal A União.